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Acesso aberto Revisado por pares
Editorial

A pesquisa em queimaduras no Brasil

Burn research in Brazil

André Oliveira Paggiaro

DOI: 10.5935/2595-170X.20240007

O atendimento aos pacientes queimados permanece como um grande desafio de saúde pública em nosso país. A falta de centros de queimaduras regionais, de uma rede integrada de atendimento, a escassez de profissionais de saúde adequadamente treinados, a indisponibilidade de recursos como curativos modernos, malhas elásticas e equipamentos cirúrgicos, o abandono no seguimento de pacientes com sequelas, que não conseguem reinserção social, são alguns exemplos das dificuldades que ainda convivemos no Brasil.


Considerando esse cenário, o estímulo ao desenvolvimento da pesquisa relacionada às queimaduras permanece renegado a um segundo plano de atenção. Entretanto, essa visão é bastante equivocada. Muitas vezes, é na análise científica dos problemas que encontramos as melhores soluções. Países que investem consistentemente em pesquisa em saúde conseguem avançar rapidamente na saúde e no desenvolvimento econômico.


A Revista Brasileira de Queimaduras, como um periódico específico da Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ), talvez seja o principal meio de publicação relacionada à temática de queimaduras no Brasil e, por isso, pode ser considerada um bom termômetro para análise da produção nacional. Como editor do periódico nos últimos dois anos, foi possível identificar algumas questões que precisam ser discutidas para a melhoria da produção nacional.


A primeira delas relaciona-se ao baixo número de publicações produzidas pelos autores brasileiros. Durante esse último ano, por exemplo, recebemos menos de 30 submissões de trabalhos em nosso sistema. Considerando a extensão territorial brasileira, trata-se de um número extremamente pequeno, principalmente, porque parte deles será recusada pelos revisores.


Outro ponto fundamental que merece destaque é a baixa qualidade dessas pesquisas. A grande maioria dos artigos são avaliações epidemiológicas simples, com amostras pequenas, de um único centro de atendimento e com análise das mesmas variáveis: idade, sexo, causa da lesão, porcentagem de superfície corpórea acometida e mortalidade. Isso torna os artigos repetitivos e pouco acrescentam em termos de novas descobertas para a comunidade científica. Seria bastante benéfico que os autores começassem a realizar estudos mais robustos do ponto de vista metodológico, como coortes, caso controle e, até mesmo, ensaios clínicos, embora estes sejam mais custosos. Mesmo as análises epidemiológicas transversais poderiam ser melhores caso fossem pesquisadas outras variáveis como nível de infecção, indicadores de qualidade de atendimento, cirúrgicos, entre outros.


Para a melhoria dessa situação, a SBQ pode ter um papel de protagonismo estimulando diversos personagens como as autoridades governamentais, a iniciativa privada, sociedade civil e, principalmente, as universidades, a se debruçarem sobre essa questão para aumentar a pesquisa em queimados no nosso país.


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