O tratamento do paciente queimado é um processo contínuo que se inicia na fase aguda, com estabilização clínica e fechamento das feridas, prolongando-se para um segundo período, mais tardio, cujo objetivo é melhorar as características estéticas e funcionais das sequelas cicatriciais. Geralmente, o enfoque principal costuma ser a melhora das questões físicas, entretanto, não se pode esquecer que esses pacientes são especialmente susceptíveis também ao desenvolvimento de problemas psicológicos, como depressão, ansiedade, abuso de álcool e estresse pós-traumático, que podem se prolongar por toda a vida quando não diagnosticados e tratados¹.

Nessa edição, apresentamos um interessante estudo qualitativo que mostra os problemas enfrentados pelo paciente queimado, que se inicia no momento da hospitalização, porém persiste posteriormente à alta (Itinerário terapêutico de adultos sobreviventes a queimaduras à luz do pensamento complexo de Edgar Morin - página 8). As dificuldades intrínsecas das sequelas cicatriciais são acompanhadas pelo enfrentamento das questões psicológicas, gerando um processo de ressignificação e de enfrentamento de uma nova realidade. Os autores abordam o contexto específico em que o paciente está inserido, levando em consideração fatores culturais, sociais, emocionais, econômicos e ambientais; assim como questões de dignidade, respeito, autonomia e justiça para apoio do paciente; a fim de garantir um tratamento humanizado e compassivo.

No Brasil, sabemos que os pacientes com sequelas de queimaduras sofrem com a dificuldade para receber atendimento adequado. Mesmo quando conseguem um local para a realização de seu tratamento cirúrgico, enfrentam a falta de acesso às malhas cirúrgicas, acompanhamento de fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia e psicologia. Além disso, não existe nenhum tipo de preocupação para reinserção desse individuo na sociedade, principalmente em relação à readaptação ao mercado de trabalho.

Considerando a precária situação do país nessa área de atuação, a leitura de um artigo com essa abordagem é fundamental para compreendermos os problemas de nossos pacientes e criarmos um sistema de saúde mais completo e inclusivo.

REFERÊNCIA

1. Paggiaro AO, Paggiaro PBS, Fernandes RAQ, Freitas NO, Carvalho VF, Gemperli R. Posttraumatic stress disorder in burn patient: A systematic review. J Plast Reconstr Aesthet Surg. 2022;75(5):1586-95. DOI: 10.1016/j.bjps.2022.02.052