Viviane Carvalho
DOI: 10.5935/2595-170X.20230007
A equipe de Enfermagem desempenha papel crucial no manejo de pacientes queimados, desde cuidados de ordem física às medidas sociopsicológicas, utilizando métodos científicos em técnicas e intervenções de enfermagem, a fim de gerir eficazmente a condição clínica dos seus assistidos. Todavia, para que esse cuidado seja prestado é necessário o desenvolvimento de competências, as quais têm início nos bancos acadêmicos e seguirão sendo atualizadas e aprimoradas, por toda carreira profissional.
Nos últimos 15 anos tenho me dedicado à formação de profissionais de saúde, em especial, Enfermeiros (as), em cursos de graduação e pós-graduação (Lato Sensu e Stricto Sensu) e lamentavelmente identifico, ano após ano, a superficialidade com que a assistência ao paciente queimado agudo ou crônico vem sendo trabalhada pelas Instituições de Ensino Superior. Há que se fazer um parênteses para algumas iniciativas particulares, por meio das Ligas Acadêmicas, Jornadas e Simpósios, conduzidos pelos alunos (as) e supervisionados por médicos, enfermeiros e outros profissionais da saúde envolvidos em sua rotina de trabalho com a assistência direta às queimaduras.
Frente ao cenário exposto e considerando a incidência global de vítimas de queimaduras, que passam por cuidados hospitalares, seja de aproximadamente 11 milhões de pessoas, parece-me justo, necessário e urgente que o conteúdo acadêmico dos cursos de graduação/licenciatura em Enfermagem receba imediata atenção, para correção das lacunas na formação teórica e prática, pois assim poderão preparar adequadamente os estudantes para as necessidades atuais dos pacientes com queimaduras.
As necessidades clínicas referidas acima evoluíram, assim como, o próprio tratamento das vítimas de queimaduras. A assistência de enfermagem começa nos primeiros minutos pós-trauma e se estende até o período reabilitatório. É esperado que, durante este intervalo de tempo, a equipe apresente pleno conhecimento das manobras de salvamento, formas de reposição volêmica, exames laboratoriais e de imagem, correção dos desvios dos diferentes sistemas fisiológicos, técnicas cirúrgicas reconstrutoras, além das tecnologias para cobertura temporária e definitivas das regiões sob injúria.
Da mesma maneira que é observada intensa evolução dos cuidados às queimaduras, parece-me oportuno afirmar que os últimos 20 anos têm questionado e colocado à prova os tradicionais métodos de ensino para as novas habilidades exigidas dos futuros e daqueles que já são profissionais da saúde, incluindo a classe de Enfermagem. Em 2018, foi lançada a campanha "Nursing Now", assinada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo International Council of Nurses (ICN), na qual estas lideranças em saúde apelam para que redes de colaboração de ensino e pesquisa sejam constituídas, entre países desenvolvidos e aqueles em desenvolvimento, a fim de que sistemas de aprendizagem dinâmicos e interativos, como ensino baseado em problemas, simulações realísticas, e-learning, sala de aula invertida, gamificação e uso de inteligência artificial possam fortalecer o pensamento crítico, o raciocínio clínico e, desta forma, contribuir na melhora dos indicadores de qualidade assistencial.
Em síntese, a atual natureza multifacetada da assistência à saúde exige de nós, professores, pesquisadores, sociedades civis de profissionais de saúde, rápido reparo das fragilidades de conteúdo dos currículos acadêmicos e exploração das potencialidades tecnológicas contemporâneas associadas à metodologias de ensino já consagradas.