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Crianças vítimas de queimaduras hospitalizadas em centro de referência de Fortaleza-Ceará em 2017

Children victims of burns hospitalized in Fortaleza-Ceará reference center in 2017

Jeffeson Hildo Medeiros de Queiroz1; Kariza Lopes Barreto2; Joyce dos Santos Lima3

RESUMO

OBJETIVO: Este estudo tem por objetivo determinar o perfil das crianças na faixa etária entre 1 e 12 anos hospitalizadas no centro de referência para tratamento de queimados em Fortaleza-Ceará no período de janeiro a dezembro de 2017.
MÉTODO: Estudo observacional, de caráter descritivo e retrospectivo, com ênfase em uma abordagem quantitativa, realizado no Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) do Hospital Instituto Doutor José Frota (IJF) em Fortaleza/CE.
RESULTADOS: Foram identificados 333 pacientes acometidos por queimaduras. No entanto, 159 foram excluídos por não apresentarem registro médico completo. Assim, 174 prontuários foram selecionados para compor a amostra. Houve predomínio da faixa etária de 0 e 6 anos, do gênero masculino e queimaduras do 2° grau. No tocante ao agente etiológico, líquido quente foi o principal causador de queimadura. A área mais afetada foi tronco e membros superiores.
CONCLUSÕES: Os dados obtidos nesta pesquisa corroboram com informações na literatura disponíveis sobre o tema. Apesar do progresso no tratamento de pacientes queimados, acentua-se a necessidade de promoção de estratégias preventivas junto à sociedade que contribuam para a diminuição da incidência dessa injúria.

Palavras-chave: Criança. Queimaduras. Saúde da Criança. Hospitalização.

ABSTRACT

OBJETIVO: Este estudio tiene como objetivo determinar el perfil de los niños de 1 a 12 años hospitalizados en el centro de referencia para el tratamiento de quemaduras en Fortaleza-Ceará, Brasil, de enero a diciembre de 2017.
MÉTODO: Estudio observacional, descriptivo y retrospectivo con énfasis en un enfoque cuantitativo realizado en el Centro de Tratamiento de Quemaduras (CTQ) del Hospital del Instituto Doctor José Frota (IJF) en Fortaleza/CE.
RESULTADOS: Se identificaron 333 pacientes con quemaduras. Sin embargo, 159 fueron excluidos por no tener un historial médico completo. Por lo tanto, se seleccionaron 174 registros médicos para componer la muestra. Hubo un predominio entre el grupo de edad de 0 y 6 años, quemaduras en pacientes de sexo masculino y de 2º grado. En cuanto al agente etiológico, los líquidos calientes fueron la principal causa de quemaduras. El área más afectada fue el tronco y las extremidades superiores.
CONCLUSIONES: Los datos obtenidos en esta investigación corroboran con la información en la literatura disponible sobre el tema. A pesar del progreso en el tratamiento de pacientes con quemaduras, se enfatiza la necesidad de promover estrategias preventivas en la sociedad que contribuyan a reducir la incidencia de esta lesión.

Keywords: Niño. Quemaduras. Salud del Niño. Hospitalización.

INTRODUÇÃO

As queimaduras são tradicionalmente definidas como uma lesão de pele e tecidos orgânicos causada pela transferência aguda de energia mecânica, térmica, elétrica, química ou radiação. Essas lesões podem ainda gerar estase, áreas de hiperemia e necroptose1,2.

Diante deste contexto, as queimaduras geram lesões cutâneas que podem ser classificadas em três graus, que se estendem do primeiro ao terceiro, na ordem do menos grave ao mais grave3. Queimaduras de 1° grau são mais superficiais, atingindo somente a parte mais externa da epiderme; as de 2° grau atingem a epiderme e a derme, causam dilatação vascular e formam bolhas e edema local; as queimaduras de 3° grau são as mais profundas, geralmente atingem nervos sensoriais, podendo atingir também ossos e músculos4. Além dos sinais e sintomas físicos encontrados em crianças queimadas, é possível que alterações no status mental sejam encontradas5.

As queimaduras estão em quarto lugar como o tipo de trauma mais comum no mundo e manifestam-se como a segunda causa de morte na infância nos Estados Unidos e Brasil1. Enfatizando estes dados, Andrade et al.6 afirmam que 75% das queimaduras em crianças acontecem no ambiente familiar, por água e outros líquidos quentes e chamas de fogo. Ainda, segundo Maaloul et al.7, os acidentes domiciliares, envolvendo queimaduras, são um grave problema de saúde pública em Pediatria. Reforçando estes dados, tendo em vista que as vítimas, geralmente, necessitam de atendimento especializado e, dependendo da gravidade, intervenção cirúrgica e internamento em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), o Ministério da Saúde8 considera que as ocorrências de queimaduras no Brasil configuram um agravo à saúde pública.

Desse modo, atualmente, o Brasil dispõe de 45 unidades hospitalares habilitadas em assistência à vítima de queimaduras, distribuídos por todo o País7. No Ceará, a Referência em Tratamento de Queimados é locada no Instituto Doutor José Frota (IJF). Em 2016, a Emergência do IJF registrou mais de 15 mil casos de acidentes domésticos envolvendo crianças na faixa etária de 0 a 14 anos, das quais cerca de 5% são casos de queimaduras8.

Diante deste contexto já evidenciado, no Brasil, dentre os acidentes com crianças e adolescentes, a queimadura tem-se apresentado como o mais incidente. Crianças que necessitam de internação hospitalar, em geral, apresentam um quadro que envolve uma diversidade de estressores físicos, como acidose, perda de fluidos, alteração no equilíbrio endócrino, potencial para infecção, dor, além dos estressores psicológicos, acarretados pela separação da família, mudança no corpo, despersonalização, dependência de cuidados, entre outros9.

Apesar dos muitos casos de queimaduras em crianças, poucos são os dados epidemiológicos e informações acessíveis sobre esses pacientes, o que gera um obstáculo na direção de programas de prevenção e promoção de saúde7. Ademais, pesquisas que busquem identificar o perfil clínico e epidemiológico de crianças vítimas de queimaduras nos centros de referência para queimados na Região Nordeste são escassas nas bases de dados nacionais, dificultando o entendimento do perfil dos pacientes em questão10. Portanto, acredita-se que o levantamento de dados epidemiológicos é uma ferramenta significativa na prevenção de acidentes que levam a queimaduras em crianças. Assim, torna-se necessário fornecer subsídios para o entendimento e manejo de crianças hospitalizadas por queimaduras.

Pelo exposto, o presente estudo teve por objetivo identificar o perfil das crianças na faixa etária entre 1 e 12 anos hospitalizadas no centro de referência para tratamento de queimados em Fortaleza-Ceará no período de janeiro a dezembro de 2017.


MÉTODO

Trata-se de um estudo observacional, transversal, de caráter descritivo e retrospectivo com ênfase em uma abordagem quantitativa realizado no Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) do Hospital Instituto Doutor José Frota (IJF), no município de Fortaleza/CE. O lapso temporal delimitado neste estudo foi o período de janeiro a dezembro de 2017.

A amostra foi de conveniência constituída por todos os casos registrados nos documentos médicos. Dessa forma, foram incluídos relatos de todos os pacientes entre 1-12 anos, hospitalizados no centro de tratamento de queimados por queimaduras de 1°, 2° e 3° grau. Foram excluídos os prontuários com preenchimento incompleto.

A coleta de dados, realizada por um pesquisador deste estudo, ocorreu no período entre janeiro e junho de 2018. Além disso, as variáveis analisadas foram: idade, gênero, região corporal acometida pela queimadura, agente etiológico e tipo (grau) de queimadura. Estes dados foram armazenados em um formulário eletrônico próprio construído no programa Microsoft Excel® versão 2016, analisados por meio de frequência simples e porcentagem e apresentados em formas de tabelas.

Para o processamento e elaboração do estudo, seguiu-se a iniciativa STROBE, que direciona os itens que devem estar presentes nos estudos de cunho observacional. Desse modo, esta iniciativa contribui para um relato mais adequado desses estudos e, consequentemente, facilita a leitura crítica dessas publicações11.

O estudo foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Hospital IJF, sob parecer nº 2947956, obedecendo aos regimentos do Conselho Nacional do Ministério de Saúde, resolução 196/96 e 46612. Além disso, foram priorizados os princípios básicos da ética: respeito ao indivíduo, beneficência e justiça.


RESULTADOS

Foram analisados os prontuários de 333 pacientes acometidos por queimaduras no período de janeiro a dezembro de 2017 no IJF. No entanto, 159 apresentavam dados faltantes em seus prontuários para cada variável de interesse. Desse modo, foram excluídos por não apresentarem registro médico completo. Portanto, 174 prontuários foram selecionados para compor a amostra desta pesquisa, sendo 99 do gênero masculino e 75 do gênero feminino. Assim, das crianças hospitalizas por queimadura no hospital onde realizou-se a pesquisa, 57% eram do gênero masculino e 43% do feminino.

À distribuição dos pacientes segundo a faixa etária, observa-se que 36 (20,7%) eram crianças de 0 a 1 ano, 27 (15,5%) de 2 anos, 20 (11,5%) de 3 anos, 13 (7,5%) de 4 anos, 14 (8,1%) de 5 anos, 11 (6,3%) de 6 anos, 14 (8,1%) de 7 anos, 13 (7,5%) de 8 anos, 2 (1,1%) de 9 anos, 7 (4%) de 10 anos, 10 (5,8%) de 11 anos e 7 (4%) de 12 anos de idade. Portanto, observa-se que 69,6% dos casos eram crianças de 0 a 6 anos.

A queimadura do tipo 2° foi a mais incidente entre as crianças da amostra investigada, apresentando 92% do total, seguida da queimadura de 1º grau (14%) e 3º grau (2,8%).

Quanto à área corporal atingida pela queimadura, a maior parte dos pacientes tiveram os membros superiores (33,84%) e região do tronco (30,41%) atingidos. Os membros inferiores (19,77%), cabeça e pescoço (15,96%) apresentaram-se com menor frequência. Enfatiza-se que a maioria das crianças tiveram mais de uma área atingida.

Foi evidenciado também que a principal causa de queimaduras relacionadas à hospitalização das crianças foi queimadura por líquido quente como o principal agente, com 61%, seguido de queimadura por contato com objetos quentes (21%), fogo (6,89%), choque elétrico (4,02%), explosão (2,29%), Sol (2,29%), fogos de artifício (1,14%) e substâncias químicas (0,57%).


DISCUSSÃO

Nesta pesquisa, corroborando com outros estudos, houve uma predominância do gênero masculino. Enfatizando estes achados, Morais et al.13, considerando todos os prontuários registrados, afirmam que 65,9% dos indivíduos vítimas de queimadura foram do sexo masculino e 34,1% do sexo feminino. Explicando estes dados, Francisconi et al.14 defendem que estes números se devem à diferença do comportamento entre o sexo masculino e feminino, pois os homens tendem a se expor à um maior risco. Ademais, a facilidade de acesso a objetos e líquidos quentes é um fator relevante que favorece às queimaduras5.

No que se refere à idade das crianças hospitalizas por queimadura, observa-se que entre 0 e 6 anos houve o maior número de hospitalizações por queimadura. Em relação a estes dados, Santana15 explica que as crianças nessa faixa etária não possuem capacidade intelectual e motora suficientes para evitar perigos de queimadura. Além disso, o mesmo pesquisador ressalta que isso ocorre pela característica nata da criança de ser curiosa, exploradora e, principalmente, muito inquieta. Estes dados ressaltam a necessidade de um cuidado mais atencioso sobre crianças que se encontram nesta faixa etária com o objetivo de reduzir os casos de hospitalizações.

Além deste contexto já evidenciado, crianças incluídas nessa faixa etária, por sua pele ser mais sensível que a de um adulto, não suportam queimaduras. Consequentemente, queimaduras superficiais podem instantaneamente se tornarem profundas15,16. Além desta sintomatologia clínica, em crianças vítimas de queimaduras, é possível observar alterações no status mental5.

Quanto ao tipo das queimaduras, identificou-se predominância nos casos do tipo de 2º grau, chegando a 92%. Estes dados, corroboram com o estudo de Silva et al.16, que apresentam queimaduras de segundo grau em 77% das crianças investigadas, seguidas de terceiro e primeiro grau. Enfatizando este contexto, em outro estudo realizado com crianças, há superioridade de queimaduras de 2° grau, com frequência de 59%17.

Na literatura pesquisada, áreas como cabeça, pescoço, tronco e membros superiores tiveram maior concentração de queimaduras, devido à posição na qual a criança se encontra em relação ao agente causador de queimadura18. Ademais, as partes do corpo mais atingidas por queimaduras foram membros superiores, cabeça e tórax. Semelhante a esses estudos, Silva et al.16 concluíram que o tronco e os membros superiores obtiveram maior frequência, com 45% dos casos.

Os achados acima corroboram com esta pesquisa, na qual foi encontrado que a maior parte dos pacientes investigados tiveram os membros superiores (33,84%) e tronco (30,41%) atingidos.

No que se refere à etiologia dos casos de queimadura, segundo Silva et al.16, no pronto-socorro de Goiânia, no estado de Goiás, em relação ao agente etiológico destacaram as queimaduras por contato, com 837 (31,43%) dos casos, seguidas por líquido quente, com 761 (28,57%), e o menor registro foi queimaduras por substâncias químicas, com 35 (1,31%). Por outro lado, os resultados do presente estudo evidenciam que houve maior incidência de queimaduras por líquidos quentes, seguido de queimaduras por contato13,18,19.

Ademais, no município de Niterói - RJ, um estudo de caráter observacional, atribuiu a ocorrência das queimaduras ocasionadas pelas chamas devido à gasolina, álcool e querosene serem facilmente comercializados e de uso doméstico13,17.

Além de todo este contexto já evidenciado, entende-se, a partir dos registros médicos incompletos e, portanto, não considerados para esta pesquisa, que os achados deste estudo podem apresentarse em maior quantidade20-22.

Ainda enfatizando o cuidado e eficiência na rede de emergência em Pediatria, Botelho Filho et al.20 sugerem um maior incentivo para as políticas públicas de emergência que amparam o cuidado à saúde da criança objetivando reduzir a morbimortalidade neste contexto investigado.

Portanto, embasado em evidências consistentes e atuais, sugerese um maior empenho na prevenção e promoção de saúde em Pediatria e saúde do adolescente com o intuito de reduzir os casos de queimaduras nesta população 21,22.


CONCLUSÃO

O estudo demonstrou um perfil de pacientes crianças hospitalizas no Centro de Tratamento de Queimados em Fortaleza/CE, compatível com outros centros especializados. Consiste em crianças do gênero masculino, na faixa etária entre 1 e 7 anos. Em relação ao agente etiológico, o mais comum foi líquido quente, seguido por contato com objetos quente. Houve predominância da queimadura de 2° grau, acometendo mais os membros superiores e tronco.

Este estudo enriquece o conhecimento da comunidade científica regional acerca do tema. Além disso, acentua-se a necessidade de promoção de estratégias preventivas junto à sociedade que contribuam para a diminuição da incidência dessa injúria.


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Recebido em 10 de Setembro de 2019.
Aceito em 10 de Dezembro de 2019.

Local de realização do trabalho: Hospital Instituto Doutor José Frota, Fortaleza, CE, Brasil.

Conflito de interesses: Os autores declaram não haver.


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