1642
Visualizações
Acesso aberto Revisado por pares
Artigo Original

Estudo epidemiológico da Unidade de Tratamento de Queimaduras da Universidade Federal de São Paulo

Epidemiological study of the Federal University of São Paulo Burn Unit

Liliane do Amaral Lacerda1; Aline Couto Carneiro2; Andréa Fernandes de Oliveira3; Alfredo Gragnani4; Lydia Masako Ferreira5

RESUMO

Introduçao: Queimadura é um grave trauma, com repercussoes sociais, econômicas e de saúde pública, que tem seu tratamento custeado basicamente pelo poder público, e necessita de dados epidemiológicos para a correta gestao pública e para campanhas de prevençao. Objetivo: Traçar o perfil epidemiológico dos pacientes atendidos na unidade de tratamento de queimaduras (UTQ) da Universidade Federal de Sao Paulo (UNIFESP). Método: Os dados foram coletados nos 12 primeiros meses de funcionamento, de julho de 2009 a junho de 2010. O estudo analisou o total de internaçoes por mês; tipo de internaçao; sexo; idade; procedência; agente da queimadura; classificaçao quanto à extensao, gravidade do caso; SCQ; taxa de ocupaçao; período de internaçao; média mensal de cirurgias; tentativa de suicídio; lesao inalatória; taxa de mortalidade; solicitaçao de vagas e atendimento ambulatorial. Resultados: Dos 101 pacientes internados nesse período, 69,3% foram do sexo masculino, com média de internaçao mensal de 8,3 dias. A média da idade foi de 33,7 anos (11meses a 90 anos). Líquido inflamável (40,6%) foi o mais frequente, álcool líquido (31,3%), seguido de líquido aquecido (25,7%). Pequeno queimado em 61,4%, com SCQ média de 11,3% (1 a 77,5%). A média mensal de cirurgias foi de 9,1, sendo que foram realizadas precocemente, entre 3 e 5 dias após a queimadura; 4,95% foram causadas por tentativa de suicídio, 10,9% apresentavam lesao inalatória na internaçao e 5,94% de taxa de mortalidade. Conclusao: Houve predomínio do sexo masculino, das queimaduras de segundo grau misto e de menor extensao. A mortalidade foi relacionada à presença da lesao inalatória.

Palavras-chave: Queimaduras/epidemiologia. Unidades de queimados. Ferimentos e lesões.

ABSTRACT

Background: Burns is a serious trauma, affecting social, economic and public health, which has basically funded their treatment by the government, and needs of epidemiological data for the correct management and publishing for prevention. Purpose: Describe the epidemiological profile of patients treated at the UNIFESP burn care unit. Methods: Data were collected from July 2009 to June 2010. The study evaluated the total number of admissions per month, type of admission, sex, age, origin of the patient, burn agent, ranking as the extent, severity of the case, body surface total area burned, occupancy rate, hospital stay, mean of surgery, self extermination, inhalation injury, mortality rate, hospital bed request and outpatient care. Results: Of the 101 patients admitted during this period, 69.3% were male, mean hospital stay of 8.3 days monthly. The median age was 33.7 years old (11months to 90 years.) Flammable liquid (40.6%) was the most frequent, liquid alcohol (31.3%), followed by heated liquid (25.7%). Small burned in 61.4%, with an average of 11.3% TBSA (1 to 77.5%). The monthly mean of surgeries was 9.1 and they were made precociously, between 3 to 5 days post burn. 4.95% were caused by self extermination, 10.9% had inhalation injury and 5.94% mortality rate. Conclusion: There was male, of second degree burns mixed and less extensive predominance. The mortality was related to the presence of inhalation injury.

Keywords: Burns/epidemiology. Burn units. Wounds and injuries.

Queimadura é um trauma grave, com repercussoes sociais, econômicas e de saúde pública que necessita da atençao de órgaos governamentais1. A queimadura está entre as principais causas de morbidade e mortalidade2, sendo um trauma de grande complexidade e de difícil tratamento, que é multidisciplinar, com alta taxa de morbidade e mortalidade3.

A epidemiologia desse trauma varia em diferentes partes do mundo4. Segundo o conhecimento atual, existem evidências para se acreditar que a queimadura está associada ao índice socioeconômico da populaçao, porque os atendimentos prevalecem em pacientes com menores condiçoes socioeconômicas5.

Sabe-se que a metodologia das atividades preventivas pode ser aperfeiçoada com estratégias pontuais, ao ter um enfoque na educaçao da saúde pública6. Portanto, a realizaçao de um maior número de estudos técnicos científicos nacionais sobre a epidemiologia de queimaduras torna-se necessário e desejado. Fornecer um alicerce por meio de pesquisa em instituiçoes terciárias é fundamental para que os órgaos responsáveis possam desenvolver métodos de prevençao eficazes, baseados na populaçao local estudada3,7.

O objetivo do presente estudo foi traçar um perfil epidemiológico dos pacientes atendidos na Unidade de Tratamento de Queimaduras, no período do ano inicial das atividades, agregando peculiaridades que permitam o aprimoramento do Serviço e possibilidade de elaboraçao de políticas educativas populacionais futuras visando à prevençao de acidentes com queimaduras.


MÉTODO

Estudo epidemiológico de 101 pacientes internados na Unidade de Tratamento de Queimaduras da Disciplina de Cirurgia Plástica da Universidade Federal de Sao Paulo, localizada no Hospital Sao Paulo, no período de Julho 2009 a Junho de 2010.

O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNIFESP, sob o número 0119/10.

O estudo epidemiológico analisou os indicadores sobre o total de internaçoes por mês; se o paciente era SUS ou da saúde complementar; o sexo; a idade; a procedência do paciente antes da internaçao; o agente da queimadura; a classificaçao quanto a pequeno, médio ou grande queimado; a gravidade do caso; a superfície corpórea queimada; a taxa de ocupaçao mensal; a média do período de internaçao; a média mensal de cirurgias; tentativa de suicídio; presença de lesao inalatória; taxa de mortalidade; solicitaçao de vagas de outros hospitais; número de vagas cedidas e negadas, vagas de crianças e adultos, vagas para o município ou estado e atendimento ambulatorial.

Em relaçao à faixa etária, foram separados de 0 a 18 anos, de 19 a 30, de 31 a 50, de 51 a 65 e acima de 65 anos. Os pacientes podiam ter a procedência da própria residência, de outros hospitais, do local de trabalho, do ambulatório ou da rua.

Os agentes causadores de queimadura foram classificados em líquidos inflamáveis, líquidos aquecidos, gases aquecidos, radiaçao, sólidos aquecidos, químicos, fogo e trauma elétrico. O álcool foi dividido em álcool líquido e álcool gel.

A extensao da queimadura foi classificada em pequena, média e grande e a gravidade, em baixa, moderada e grave. Enquanto a superfície corpórea queimada foi dividida em menor que 10%, entre 11 e 25%, entre 26 e 50, entre 51 e 75% e entre 76 e 100%.

As cirurgias foram classificadas por desbridamento, enxertia de pele, associaçao entre desbridamento e enxertia e outras. A suspeita de lesao inalatória e a tentativa de suicídio também foram avaliadas.

O número de pacientes atendidos pelo Sistema Unico de Saúde (SUS) ou pela saúde complementar; as vagas solicitadas de outros hospitais, para crianças e adultos, da Secretária de Saúde do Município de Sao Paulo ou do Estado de Sao Paulo e o número de atendimentos ambulatoriais foram contabilizados e tabulados para os 12 meses de funcionamento da Unidade de Tratamento de Queimaduras.

Os dados foram coletados e armazenados mensalmente através de formulário próprio, com consulta aos prontuários médicos dos pacientes e transferidos para planilhas específicas com informaçoes atualizadas diariamente.


RESULTADOS

De Julho de 2009 a Junho de 2010, perfazendo um período de 12 meses, ocorreram 101 internaçoes na Unidade de Tratamento de Queimaduras (UTQ) da UNIFESP, sendo as mesmas apresentadas abaixo e distribuídas pelos meses analisados. A média mensal de internaçoes na UTQ foi de 8,3 pacientes. Outubro mostrouse com o maior número de internaçoes, totalizando 17 (16,8% do total). Setembro, novembro, fevereiro e março apareceram com uma estabilidade de 11 pacientes internados ou 10,9% do total (Figura 1). Em relaçao ao sexo, foi observado predomínio do masculino com 70 pacientes (69,3%) e 31 mulheres (30,7%) (Figura 2).


Figura 1 - Distribuiçao do total de internaçoes mensais na UTQ UNIFESP.


Figura 2 - Distribuiçao das internaçoes mensais na UTQ UNIFESP, em relaçao ao sexo do paciente.



Houve predomínio de pacientes nas faixas de 31 a 50 anos com 34 pacientes (33,6%); seguido do grupo de 19 a 30 anos com 32 (31,7%). O líquido inflamável com 41 pacientes ou 40,6% e líquido aquecido com 26 pacientes ou 25,7% foram os principais agentes causadores de queimadura (Tabela 1).




O álcool foi o principal agente causador de acidente, classificado como líquido inflamável e representou 31,3% do total dos casos. Isolados, álcool líquido e escaldo prevaleceram no sexo masculino.

Os pacientes apresentavam procedência ou origem no momento do acidente de suas residências em 52 (51,5%) dos casos internados; 31 (30,6%) foram vagas solicitadas e cedidas pela unidade para outros hospitais; 13 (12,9%) foram provenientes do local de trabalho onde ocorreu o acidente; 3 (2,99%) das ruas e 2 (2,01%) do ambulatório (Tabela 2).




Em relaçao à extensao da queimadura, houve predomínio da pequena queimadura em 62 casos (61,4%), sendo 27 (26,7%), e 12 (11,9%) classificados, respectivamente, como média e grande queimadura (Tabela 3).




Em relaçao à gravidade, 66 pacientes (65,35%) foram classificados como de baixa gravidade, enquanto 12 (11,9%) e 23 (22,75%), respectivamente, foram classificados como de grave e de moderada gravidade (Tabela 4).




Verificou-se que 61 (60,3%) pacientes tinham menos que 10% de SCQ (Tabela 5). A média foi de 11,3% de superfície corpórea queimada, variando de 1 a 77,5%.




A UTQ UNIFESP apresentou em outubro de 2009 e janeiro de 2010, respectivamente, a maior (86%) e a menor (17,5%) taxa de ocupaçao. Tendo a média nesse primeiro ano de funcionamento ficado em 45,4%.

Em relaçao ao período médio de internaçao dos pacientes, foi observado que o mês de janeiro de 2010 foi o período de maior média de permanência dos pacientes, 33,5 dias de internaçao. A média total do ano inicial de funcionamento foi de 13,7 dias de internaçao.

No período desses 12 meses iniciais da UTQ, a média mensal de cirurgias realizadas foi 9,1. O desbridamento e a enxertia de pele em atos operatórios separados foram os procedimentos mais realizados, sendo respectivamente 39 (35,4%) e 37 (33,6%) (Tabela 6).




Do total das internaçoes, 5 (4,95%) casos de tentativa de suicídio (T.S.) ou autoextermínio, 4 (13,3%) foram realizadas pelo sexo feminino e 1 (1,67%) pelo sexo masculino (Tabela 7).




A presença da lesao inalatória foi positiva em 11 casos (10,9%), do total de 101 internaçoes. Foram observados no período avaliado 6 óbitos, com média de taxa de mortalidade de 5,94%.


DISCUSSAO

Queimaduras podem resultar em deformidades graves, deficiências limitantes, e reaçoes psicológicas adversas com repercussoes sociais, que afetam os pacientes e seus familiares. A epidemiologia dessas lesoes varia de uma parte do mundo para outra ao longo de um determinado tempo e estao relacionadas com práticas culturais, crises sociais e circunstâncias individuais4.

A maioria dos pacientes internados observados na Unidade de Tratamento de Queimaduras da Disciplina de Cirurgia Plástica da UNIFESP foi da populaçao masculina, num total de 70 (69,3%) casos, resultado semelhante ao encontrado em diversos estudos em outros países e em outros momentos da história8-12. Os homens ainda trabalham em maior número em serviços que exigem maior esforço físico e estao expostos em atividades com maior risco para acidentes, como manuseio de equipamentos mecânicos ou trabalho na rede de eletricidade, manipulaçao de substâncias químicas, além dos combustíveis, entre outros riscos graves de acidentes, como os automobilísticos, guerras, tráfico de drogas. Por isso, a populaçao masculina jovem continua a ser a de maior risco, e campanhas de prevençao de acidentes de trabalho deve ser realizada continuamente. A literatura descreve aumento desses acidentes, principalmente no último trimestre do ano, onde a carga de trabalho é ainda mais excessiva.

Quanto à faixa etária, a média de idade dos internados analisados foi de 33,7 anos, aproximadamente a mesma de outros estudos realizados12,13. No intervalo de 19 a 30 anos, houve 32 pacientes, sendo 59,3% dos casos em homens; a mesma predominância acontece com as faixas etárias de 31- 50 e 51-65 anos, cujos percentuais sao, respectivamente, de 76,7% e 72,7%. Observou-se que, na faixa de 19-30 anos, o percentual de mulheres nao foi prevalente, mas foi significativo em relaçao aos outros intervalos, sendo esta a faixa etária com a maior incidência para o sexo feminino. Uma das explicaçoes é que nessa faixa etária as mulheres estao aprendendo a cuidar da casa, a cozinhar, a passar roupa, a cuidar das crianças, entre outras tarefas domésticas associadas a risco de acidentes com queimaduras, além de tentar realizar várias dessas tarefas ao mesmo tempo, com aumento do estresse, além das dificuldades de moradia e do sustento familiar7. Outro fator importante é o uso de drogas ilícitas maior nessa fase da vida. No intervalo de 31-50 anos, 34 pacientes foram internados, sendo 26 homens (76,47%).

Em relaçao à faixa etária, entre 19 e 50 anos obtiveram-se 66 casos do total (65,3%), sendo que esses achados coincidiram com outro levantamento epidemiológico, no qual a faixa etária mais acometida encontrava-se entre 19 e 55 anos, com 88 (60,2%) casos14.

As queimaduras continuam sendo o pior acidente que pode acontecer subitamente a uma pessoa sadia, ou mesmo para alguém com outras doenças, marcando-a para o resto da vida. Elas sao responsáveis por significativa morbidade e elevada mortalidade no mundo todo, apesar dos avanços no tratamento disponível15.

As crianças lideram a maioria dos estudos epidemiológicos da literatura mundial. As crianças foram analisadas somente na primeira fase de funcionamento da UTQ UNIFESP, pois a partir de Dezembro de 2009 nao foram mais admitidas na unidade pela necessidade perante a legislaçao de existir áreas especiais para esse tipo de internaçao, assim como a especializaçao da enfermagem, determinando a parada da internaçao de crianças até a resoluçao dessas pendências administrativas.

Notou-se que entre as 16 internaçoes, representando 15,84% do total, na faixa etária de 0-18 anos, os acidentes ocorreram principalmente na faixa etária entre 0 e 9 anos, sendo 14 (87,5%) dos casos registrados. O sexo masculino também foi prevalente entre as crianças, com 10 (62,5%) dos casos registrados. Os acidentes de queimaduras em meninos sao geralmente explicados pelo maior grau de exposiçao ao risco com acidentes relacionados à queimadura no sexo, pelo maior ímpeto em se arriscar nas atividades relacionadas à curiosidade, distantes da supervisao de adultos. A incidência maior de queimaduras nesta fase também se deve à imaturidade e falta de coordenaçao motora, que colocam as crianças em situaçoes de perigo. Além dessas características, a supervisao inadequada e o fácil acesso à cozinha podem contribuir para a ocorrência desses eventos15.

Medidas de prevençao necessitam ser colocadas em prática. Algumas sao simples, como nao deixar alimentos ou metais quentes nas bordas das mesas ou outros suportes de baixa estatura; evitar toalhas de mesa compridas e estar sempre atento para impedir aproximaçao quando houver instrumentos quentes; atençao redobrada quando o forno estiver ligado para evitar contato da criança; posicionar cabos de panelas para trás e usar as mesmas nas bocas de trás do fogao; assim como nao armazenar em casa produtos inflamáveis. Observou-se, ainda, que a maioria das queimaduras em crianças ocorreu devido aos acidentes na própria residência do paciente, especialmente em menores de 7 anos, sendo os líquidos aquecidos o agente mais comum; e a cozinha, o local mais frequente15.

No que diz respeito ao local do acidente, a residência foi o local com o maior número de ocorrências, apontada por 51,5% dos internados; resultado compatível com o obtido na análise de 4.813 casos ambulatoriais de queimaduras em Teera. Neste, a maioria (70,5%) das queimaduras ocorreu em casa13. Tal prevalência também foi apresentada por outros autores16,17. Sendo assim, o percentual de 12,8% do local de trabalho contrasta com os resultados da literatura de 23%7.

Quanto aos agentes causadores de queimaduras, destacaram- se líquidos inflamáveis (40,6%), seguidos de líquidos aquecidos (25,7%), o que diverge da maioria dos estudos, nos quais o escaldo foi predominante, pois nestes estudos as crianças foram incluídas4,8,15.

Dentre os líquidos inflamáveis, o álcool foi o principal agente causador dos acidentes, representando 32 casos dos 41 (78%), sendo 2 (4,9%) por álcool gel, semelhante a outros estudos7,8. Observou-se que os acidentes com álcool gel foram associados aos profissionais que trabalham como garçom, que preparam e manuseiam essa substância para a manutençao da temperatura dos alimentos em réchaud.

A utilizaçao displicente de produtos inflamáveis também responde por grande número destes acidentes, podendo ter sua incidência alterada se táticas efetivas de conscientizaçao forem implantadas10. Mais efetivamente, a urgente necessidade da alteraçao da legislaçao com a pronta proibiçao da venda de álcool líquido em frasco plástico no volume de um litro, que é utilizado basicamente com finalidade de limpeza, quando existem vários produtos similares que nao apresentam tal risco de morte, e que passaria a ser comercializado somente em volumes menores, de 100 ml, e em recipientes de vidro, como ocorre em países desenvolvidos e que priorizam a prevençao de acidentes.

No que diz respeito à superfície corpórea queimada (S.C.Q.), a média percentual foi de 11,3%, valor próximo ao estudo realizado na Lituânia, no período de 1991 a 2004, cuja média foi de 9,6%18. A extensao das queimaduras foi considerada pequena, entre 0 e 10% da S.C.Q., em 62 (61,4%) dos pacientes, coincidente a outros estudos, com taxas de 60,0% e 57,0% 9,14.

Foram registrados 5 (4,95%) pacientes que realizaram tentativa de suicídio ou autoextermínio, relacionadas a problemas conjugais, outros motivos incluem distúrbios psicológicos e psiquiátricos, problemas familiares, pobreza e as relaçoes emocionais11.

A lesao inalatória foi associada a 6 óbitos, e a taxa de mortalidade em um ano foi de 5,94%, superior ao estudo de Onaheim et al.10, com o resultado de 2,1% e de Brusselaers et al.11, com 1,4%; esses estudos foram realizados fora do Brasil. Resultado semelhante foi encontrado no trabalho de Macedo e Rosa8, com 6,2% de óbito, realizado no país com populaçao semelhante. Entretanto, vários fatores contam para justificar tal taxa elevada, o início de toda nova unidade passa pela fase de treinamento anterior à sua inauguraçao, mas depois esse treinamento é expandido durante as atividades, e contamos com o passar do tempo para a obtençao da experiência nesse tipo de tratamento complexo e multidisciplinar. Além disso, como um hospital terciário, inserido numa das maiores universidades do país, as solicitaçoes de vagas de outros hospitais gera um fluxo de casos mais complexos com doenças associadas que aumentam o risco de morbidade e mortalidade.

A média dos dias de internaçao foi de 13,4, sendo esse valor próximo dos encontrados por outros autores11,19; contudo, estudos com número maior de pacientes mostram valores superiores a este16,19. Adequados recursos humanos e tecnológicos para o tratamento de pacientes com lesao por queimadura fazem com que exista uma tendência a diminuir o tempo de internaçao e a taxa de mortalidade dos mesmos. Contudo, a eficiência dos centros especializados no atendimento de queimaduras, com a utilizaçao rígida de protocolo técnico baseado em evidências, sendo supervisionado constantemente por chefia que acompanha o atendimento horizontal dos pacientes e a realizaçao de atos operatórios de forma precoce, o apoio nutricional agressivo e técnicas de substituiçao de pele 20 diminuem a morbidade e a mortalidade. Ainda assim, o custo de gestao dessas lesoes é alto, fazendo com que a maioria dos países em desenvolvimento nao possa pagar o alto custo das modernas técnicas de cuidados com queimaduras4.

Com a descriçao epidemiológica das unidades de tratamento de queimaduras, com a coleta dos dados de todo o território nacional, respeitando suas diferenças culturais e sociais, as instituiçoes responsáveis pelos investimentos em saúde, basicamente o poder público, podem analisar a correta demanda por leitos por regiao, utilizando parâmetros de desfecho, como período de internaçao, ocupaçao dos leitos, taxa de mortalidade, infecçao, uso de antibióticos, de hemoderivados, de substitutos temporários de pele, entre outros, sendo essencial para o melhor planejamento administrativo, do tratamento e da rehabilitaçao do paciente vítima de queimaduras.


CONCLUSAO

Houve predomínio do sexo masculino, das queimaduras de segundo grau misto e de menor extensao. A mortalidade foi relacionada à presença da lesao inalatória.


REFERENCIAS

1. Avelar JM. Reconstruçao da orelha pós-queimadura. Rev Bras Queimaduras. 2009;8(1):42-50.

2. Souza AA, Mattar CA, Almeida PCC, Faiwichow L, Fernandes FS, Neto ECA, et al. Perfil epidemiológico dos pacientes internados na Unidade de Queimaduras do Hospital Servidor Público Estadual de Sao Paulo. Rev Bras Queimaduras. 2009;8(3):87-90.

3. Gragnani A, Ferreira LM. Pesquisa em queimadura. Rev Bras Queimaduras. 2009;8:91-6.

4. Asuquo ME, Ekpo R, Ngim O, Agbor C. A prospective study of burn trauma in adults at the University of Calabar Teaching Hospital, Calabar (South Eastern Nigeria). Eplasty. 2008;8:e36.

5. Van Niekerk A, Laubscher R, Laflamme L. Demographic and circumstantial accounts of burn mortality in Cape Town, South Africa, 2001-2004: an observational register based study. BMC Public Health. 2009;9:374.

6. Shanmugakrishnan RR, Narayanan V, Thirumalaikolundusubramanian P. Epidemiology of burns in a teaching hospital in south India. Indian J Plast Surg. 2008;41(1):34-7.

7. Gimenes GA, Alferes FCBA, Dorsa PP, Barros ACP, Gonella HA. Estudo epidemiológico de pacientes internados no Centro de Tratamento de Queimados do Conjunto Hospitalar de Sorocaba. Rev Bras Queimaduras. 2009;8(1):14-7.

8. Macedo JLS, Rosa SC. Estudo epidemiológico dos pacientes internados na Unidade de Queimados: Hospital Regional da Asa Norte, 1992-1997. Brasília Med. 2000;37:87-92.

9. Cavalcanti AL, Martins VM, Lucena RN, Granville-Garcia AF, Menezes VA. Morbidade por causas externas em crianças e adolescentes em Campina Grande, Paraíba. Arq Catarin Med. 2008;37(3):27-33.

10. Onarheim H, Jensen SA, Rosenberg BE, Guttormsen AB. The epidemiology of patients with burn injuries admitted to Norwegian hospitals in 2007. Burns. 2009;35(8):1142-6.

11. Brusselares N, Juhasz I, Erdei I, Monstrey S, Blot S. Evaluation of mortality following severe burns injury in Hungary: external validation of a prediction model developed on Belgian burn data. Burns. 2009;35(7):1009-14.

12. Taghavi M, Rasouli MR, Boddouhi N, Zarei MR, Khaji A, Abdollahi M. Epidemiology of outpatient burns in Tehran: an analysis of 4813 cases. Burns. 2010;36(1):109-13.

13. Avsarogullari L, Sözüer E, Ikizceli I, Kekeç Z, Yürümez Y, Ozkan S. Adult burn injuries in an Emergency Department in Central Anatolia, Turkey: a 5-year analysis. Burns. 2003;29(6):571-7.

14. Miranda RE, Pacannaro RC, Pinheiro LF, Calil JA, Gragnani A, Ferreira LM. Trauma elétrico: análise de 5 anos. Rev Bras Queimaduras. 2009;8(2):65-9.

15. Machado THS, Lobo JA, Pimentel PCM, Serra MCVF. Estudo epidemiológico das crianças queimadas de 0-15 anos atendidas no Hospital Geral do Andaraí, durante o período de 1997 a 2007. Rev Bras Queimaduras. 2009;8(1):3-8.

16. Celko AM, Grivna M, Danova J, Barss P. Severe childhood burns in the Czech Republic: risk factors and prevention. Bull World Health Organ. 2009;87(5):374-81.

17. Guo F, Chen XL, Wang YJ, Wang F, Chen XY, Sun YX. Management of burns of over 80% of total body surface area: a comparative study. Burns. 2009;35(2):210-4.

18. Rimdeika R, Kazanavicius M, Kubilius D. Epidemiology of burns in Lithuania during 1991-2004. Medicina (Kaunas). 2008;44(7):541-7.

19. Burton KR, Sharma VK, Harrop R, Lindsay R. A population-based study of the epidemiology of acute adult burn injuries in the Calgary Health Region and factors associated with mortality and hospital length of stay from 1995 to 2004. Burns. 2009;35(4):572-9.

20. Pham C, Greenwood J, Cleland H, Woodruff P, Maddern G. Bioengineered skin substitutes for the management of burns: a systematic review. Burns. 2007;33(8):946-57.










1. Enfermeira-Chefe da Unidade de Tratamento de Queimaduras da Universidade Federal de Sao Paulo/Escola Paulista de Medicina, Sao Paulo, SP, Brasil.
2. Aluna da Graduaçao em Medicina da Universidade Federal de Sao Paulo/Escola Paulista de Medicina, Sao Paulo, SP, Brasil.
3. Mestre em Ciências da Saúde pelo Programa de Pós-Graduaçao da Disciplina de Cirurgia Plástica da UNIFESP, Sao Paulo, SP, Brasil.
4. Professor Adjunto da Disciplina de Cirurgia Plástica da Universidade Federal de Sao Paulo e Coordenador Técnico da Unidade de Tratamento de Queimaduras da UNIFESP, Sao Paulo, SP, Brasil.
5. Professora Titular da Disciplina de Cirurgia Plástica e Chefe do Departamento de Cirurgia da UNIFESP, Sao Paulo, SP, Brasil.

Correspondência:
Alfredo Gragnani
Rua Napoleao de Barros, 737 - 14º andar Vila Clementino
Sao Paulo, SP, Brasil - CEP 04024-002
E-mail: alfredogf@ig.com.br

Recebido em: 1/8/2010
Aceito em: 15/9/2010

Trabalho realizado na Unidade de Tratamento de Queimaduras da Disciplina de Cirurgia Plástica do Departamento de Cirurgia da Universidade Federal de Sao Paulo, Sao Paulo, SP, Brasil.

© 2024 Todos os Direitos Reservados