Luiz Philipe Molina Vana1; Carlos Fontana1; Marcus Castro Ferreira2
RESUMO
O presente estudo foi realizado no ambulatório de sequelas de queimaduras do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de Sao Paulo e propoe um algoritmo de tratamento de sequelas de queimaduras que facilitem o raciocínio e, principalmente, seja estabelecida uma lógica de atendimento baseado em evidências. O ambulatório consta com o seguimento de 640 pacientes, que têm sido tratados com este algoritmo de atendimento.
Palavras-chave: Queimaduras/complicações. Queimaduras/cirurgia. Algoritmos.
ABSTRACT
The present paper was developed at the Clinics Hospital of University of Sao Paulo and propose and algorithm to treat burn sequelae that facilitates the thinking and, specially, been established a logical way to decide the treatment of burn sequelae. Six hundred forty patients are been under treatment and they used to developed the algorithm.
Keywords: Burns/complications. Burns/surgery. Algorithms.
Apesar de ênfase crescente em prevençao, cerca de 2 milhoes de pessoas sofrem queimaduras todos os anos, 80.000 sao internadas em hospitais, e 6.500 perdem suas vidas a cada ano nos Estados Unidos. No Brasil ainda nao dispomos de um eficiente sistema de centralizaçao de dados, mas já possuímos informaçoes que demonstram a gravidade das queimaduras em nosso país1,2.Fino - de 0 a 0,006 polegadas (0 a 0,1524 mm). Devido à quantidade pequena de derme, apresenta boa taxa de integraçao, porém grande fragilidade, raramente utilizamos no tratamento de sequelas. A sua taxa de retraçao nao permite alcançar resultados adequados. Médio - de 0,007 a 0,015 polegadas (0,1778 a 0,381 mm). É o mais frequentemente utilizado em decorrência da facilidade de utilizaçao (para utilizar com enxerto expandido, malha, por exemplo), boa qualidade estética, funcional e resistência e boa qualidade da área doadora. Espesso - mais espesso que 0,015 polegadas (0,381 mm). Apresenta excelente qualidade estética, funcional e resistência, porém a área doadora apresenta complicaçoes mais frequentes, como as cicatrizes hipertróficas, além de nao pode ser reutilizada. Devido a sua espessura, esse enxerto tem maior dificuldade de integraçao. Está indicado quando há necessidade de se ter uma cobertura com muita resistência ou grande qualidade estética, como na face. Total - toda a espessura da derme. Por termos uma mínima quantidade de áreas doadoras (regiao inguinal, suprapúbica, retroauricular, face interna de braço, supraclavicular e palpebral em pessoas mais velhas), este tipo de enxerto fica restrito a pequenas áreas e locais específicos, como as pálpebras. Apresenta o melhor resultado possível, tanto estético como funcional, porém é o mais difícil de integrar em decorrência de sua espessura (Figura 2).
Retalhos expandidos - em algumas situaçoes, os retalhos sao as melhores indicaçoes para a reconstruçao, como a reconstruçao das mamas. Entretanto, em muitas vezes, a área doadora nao é suficiente; neste tipo de situaçao, realizamos a combinaçao do retalho com a sua prévia expansao. Apesar de bastante trabalhoso, os resultados sao bons, seguros e consistentes. No entanto, requer curva de aprendizado tanto do retalho quanto do expansor2. Retalhos microcirúrgicos - utilizado em casos extremos, quando nao resta mais nenhuma opçao de reconstruçao e a alteraçao funcional é importante. Os mais comumente utilizados sao o retalho lateral da coxa, o TRAM e o grande dorsal8,15-17. Implante de cabelo - utilizado como primeira opçao na reconstruçao do supercílio. Apresenta resultados excelentes, como desvantagens apresenta a necessidade de se realizar duas ou três sessoes para ficar com aspecto cheio e natural e a necessidade de se cortar constantemente o pêlo, pois ao contrário do pêlo original do supercílio, o cabelo continua a crescer2,8. Tratamento da área doadora - o adequado tratamento da área doadora tem como objetivo evitar um problema a mais ao paciente. Deve-se evitar dor, infecçao local e transformaçao da área doadora em uma ferida que precise ser enxertada. Após estudo realizado e publicado nesta revista18, utilizamos rotineiramente o filme de poliuretano em todas as áreas doadoras. Suas vantagens sao evidentes em relaçao a todos os procedimentos anteriores que utilizávamos. Desta maneira, nao temos mais problemas de dor, necessidade de troca de curativos, infecçao secundária, ou dificuldade com higiene pessoal (banho).
REFERENCIAS
1. Saffle JR, Davis B, Williams P. Recent outcomes in the treatment of burn injury in the United States: a report from the American Burn Association Patient Registry. J Burn Care Rehabil. 1995;16(3 pt 1):219-32.
2. Herndon D. Total burn care. 3rd ed. Saunders;2007.
3. De Souza DA, Manco RA. Epidemiological data of patients hospitalized with burns and other traumas in some cities in the southeast of Brazil from 1991 to 1997. Burns. 2002;28(2):107-14.
4. Arturson G. Pathophysiology of the burn wound and pharmacological treatment: the Rudi Hermans lecture,1995. Burns. 1996;22(4):255-74.
5. Sheridan RL. Comprehensive treatment of burns. Curr Probl Surg. 2001;38(9):657-75.
6. Deitch EA, Wheelahan TM, Rose MP, Clothier J, Cotter J. Hypertrophic burn scars: analysis of variables. J Trauma. 1983;23(10):895-8.
7. Moss LS. Outpatient management of the burn patient. Crit Care Nurs Clin North Am. 2004;16(1):109-17.
8. Achauer and Sood's. Burn surgery. Reconstruction and rehabilitation. Saunders;2006.
9. Rennekampff HO, Kiessig V, Hansbrough JF. Current concepts in the development of cultured skin replacements. J Surg Res. 1996;62(2):288-95.
10. White N, Hettiaratchy S, Papini RP. The choice of split-thickness skin graft donor site: patients' and surgeons' preferences. Plast Reconstr Surg. 2003;112(3):933-4.
11. Papini R. Management of burn injuries of various depths. BMJ. 2004;329(7458):158-60.
12. Lewis R, Lang PG Jr. Delayed full-thickness skin grafts revisited. Dermatol Surg. 2003;29(11):1113-7.
13. Atiyeh BS, Ioannovich J, Al-Amm CA, El-Musa KA, Dham R. Improving scar quality: a prospective clinical study. Aesthetic Plast Surg. 2002;26(6):470-6.
14. Ratner D. Skin grafting. Semin Cutan Med Surg. 2003;22(4):295-305.
15. Stefanacci HA, Vandevender DK, Gamelli RL. The use of free tissue transfers in acute thermal and electrical extremity injuries. J Trauma. 2003;55(4):707-12.
16. Ninkovic M, Moser-Rumer A, Ninkovic M, Spanio S, Rainer C, Gurunluoglu R. Anterior neck reconstruction with pre-expanded free groin and scapular flaps. Plast Reconstr Surg. 2004;113(1):61-8.
17. Yongwei P, Jianing W, Junhui Z, Guanglei T, Wen T, Chun L. The abdominal flap using scarred skin in the treatment of postburn hand deformities of severe burn patients. J Hand Surg Am. 2004;29(2):209-15.
18. Vana LPM. Revisao do tratamento de área doadora de enxerto de pele - revisao de literatura. Rev Bras Queimaduras. 2008;7(4):24-40.
1. Médico Assistente da Divisao de Cirurgia Plástica e Queimaduras do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de Sao Paulo (FMUSP).
2. Médico, Professor Titular da Disciplina de Cirurgia Plástica da FMUSP.
Correspondência:
Luiz Philipe Molina Vana
Rua Batataes, 460 cjto 11 - Jardins
Sao Paulo, SP, Brasil - CEP 01423-010
E-mail: philipe@uol.com.br
Recebido em: 28/1/2010
Aceito em: 2/6/2010
Trabalho realizado na Unidade de Queimaduras da Divisao de Cirurgia Plástica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de Sao Paulo (FMUSP), Sao Paulo, SP.