1431
Visualizações
Acesso aberto Revisado por pares
Artigo Original

Perfil epidemiológico de crianças e adolescentes vítimas de queimaduras admitidos em centro de tratamento de queimados

Epidemiological profile of children and adolescents burn victims admitted to the burned treatment center

Mikelini Ayumi Takino1; Paola Janeiro Valenciano2; Edna Yukimi Itakussu3; Emely E. Kakitsuka4; Angela A. Hoshimo4; Celita S. Trelha5; Dirce Shizuko Fujisawa6

RESUMO

OBJETIVO: Estabelecer o perfil epidemiológico de crianças e adolescentes atendidas em Centro de Tratamento de Queimados (CTQ).
MÉTODO: Estudo transversal realizado por meio da análise dos prontuários de crianças e adolescentes (0 a 17 anos), internadas no CTQ, no período entre maio de 2011 e fevereiro de 2014. Aspectos investigados: sexo; idade; agente causal; motivo da queimadura; superfície corpórea queimada (SCQ), regioes acometidas; procedimentos; necessidade de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), ventilaçao assistida; tempo de internaçao; fisioterapia e desfecho.
RESULTADOS: Foram analisados 177 prontuários, a mediana da idade foi de 4 [2-10] anos, maior prevalência no sexo masculino (n=118; 67%) e fase pré-escolar (n=66; 37%). O principal agente causal foi escaldo (53%) e o motivo com maior prevalência foi acidente doméstico (86%). O percentual da SCQ foi de 8,5% [4-15], com mediana do tempo de internaçao de 12 [5-15] dias, 23% necessitaram de atendimento em UTI, 6% foram a óbito. O desbridamento foi o procedimento mais realizado e a fisioterapia acompanhou todos os pacientes.
CONCLUSAO: Os resultados apontam que a fase mais suscetível à queimadura é a pré-escolar, com predominância no sexo masculino, sendo que os acidentes ocorrem no âmbito domiciliar por escaldaduras, acometem várias regioes do corpo e demandam internaçao e vários procedimentos terapêuticos. Programas preventivos devem dar atençao especial à populaçao pediátrica na faixa etária entre os 2 e 6 anos, com ênfase nos cuidados no domicílio.

Palavras-chave: Queimaduras. Criança. Adolescente. Terapêutica. Fisioterapia.

ABSTRACT

OBJECTIVE: To analyze the epidemiological profile of children and adolescents burn victim admitted to the Burn Treatment Center (BTC).
METHODS: A crosssectional study was conducted through the analysis of records of children and adolescents (0-17 years) who were burn victims hospitalized in BTC, between May 2011 and February 2014. It was analyzed: sex; age; causal agent; burns reason; body surface area burned (BSAB) and affected regions; procedures; intensive care unit (ICU); mechanical ventilation and tracheostomy; length of stay; physiotherapy and outcome.
RESULTS: A total of 177 subjects were analyzed, the average age was 4 [2-10] years, with a higher prevalence in males (n=118; 67%) and preschool children (n=66; 37%). The main etiologic agent was scald (53%) and the most prevalent reason was domestic accident (86%). The percentage of BSAB was 8.5% [4-15] and average length of stay was 12 [5-15] days, while 23% required ICU care and 6% patients died. Debridement was the most performed procedure and physiotherapists assisted all study patients.
CONCLUSIONS: These results indicate that preschools are more susceptible to burning with predominance in males, and those accidents occur in the home environment by scalds, affecting multiple body regions and requiring hospitalization and several therapeutic procedures. Prevention programs should give special attention to pediatric population aged between two and six years, with emphasis on care in the home environment.

Keywords: Burns. Child. Adolescent. Therapeutics. Physical Therapy Specialty.

INTRODUÇAO

As queimaduras sao problema de saúde pública mundial e têm maior incidência nos países de baixa e média renda, sendo responsáveis por cerca de 265.000 mortes por ano1. No Brasil, acontecem anualmente cerca de 1 milhao de acidentes com queimaduras; desses, aproximadamente 100.000 vítimas necessitam de atendimento hospitalar e 2.500 vao a óbito em decorrência das lesoes2.

O trauma térmico tem sido descrito como o mais frequente, porém as queimaduras também podem ser provocadas por agentes químicos, elétricos ou radioativos; todos com capacidade de provocar sequelas funcionais, estéticas e psicológicas nas vítimas3. Em crianças pequenas, os acidentes em casa e por escaldaduras sao os mais comuns4-6.

As lesoes podem ser classificadas em diferentes graus, baseados na profundidade atingida. A queimadura de 1º grau é aquela que acomete apenas a epiderme; quando atinge parte da derme, passa a ser classificada como de 2º grau; e, em alguns casos, lesiona-se a totalidade das camadas da pele (derme e epiderme), chegando a atingir tecidos mais profundos como tendoes, ligamentos, músculos e ossos, o que caracteriza as de 3º grau7.

Juntamente com as mulheres adultas, as crianças sao particularmente vulneráveis às queimaduras. A queimadura é a décima primeira principal causa de morte de crianças de 1 a 9 anos e, também, é a quinta causa mais comum de lesoes de infância nao fatais1. No paciente pediátrico, as repercussoes da queimadura sao mais intensas e as sequelas ainda mais preocupantes, visto que está em fase de rápido desenvolvimento físico e motor8,9.

Diferentemente do adulto, as crianças possuem peculiaridades fisiológicas, anatômicas e psicológicas, distribuídas em cada faixa etária, fator relevante para a estruturaçao do tratamento adequado e efetivo, bem como, no seu prognóstico2. Azevedo10 destaca a importância do envolvimento da criança queimada com o aspecto lúdico, como forma de apoio emocional e ferramenta de auxílio durante o processo de reabilitaçao.

Sabe-se que os centros de queimados possuem uma equipe multiprofissional envolvida na assistência às vítimas de queimaduras, já que esses pacientes necessitam de tratamento específico e individualizado11. Também, após a alta hospitalar é necessário acompanhamento multiprofissional qualificado para minimizar os danos físicos e psíquicos e melhorar a qualidade de vida desses indivíduos12. Nesse sentido, a fisioterapia possui papel significativo no tratamento dos pacientes queimados e atuando precocemente reduz o risco de maiores sequelas3. Autores apontam a importância dessa abordagem nas diferentes fases da lesao13.

O objetivo deste estudo foi estabelecer o perfil epidemiológico de crianças e adolescentes atendidas em Centro de Tratamento de Queimados (CTQ).


MATERIAL E MÉTODOS

Foi realizado estudo transversal por meio da análise dos prontuários da populaçao pediátrica, de 0 a 17 anos, internados no Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) do Hospital Universitário de Londrina (HUL), em Londrina, PR, no período entre maio de 2011 a fevereiro de 2014.

A populaçao infantil incluída no estudo foi subdividida em quatro subgrupos, de acordo com a faixa etária: lactentes (do nascimento ao primeiro ano de vida), pré-escolares (dos 2 aos 6 anos), escolares (dos 7 aos 9 anos) e adolescentes (faixa etária entre 10 a 19 anos)14,15. Foram excluídos do estudo os pacientes admitidos para realizaçao de cirurgias eletivas, indivíduos que necessitaram de reinternaçoes após a primeira alta hospitalar no CTQ/HUL e aqueles cujo prontuário estava indisponível ou ausente no Serviço de Arquivo Médico (SAME).

Inicialmente, foi consultado o serviço de Estatística do Hospital Universitário para obter-se o registro de todos os pacientes que deram entrada no CTQ/HUL. Para a coleta dos dados, foi utilizada ficha previamente elaborada, contendo os seguintes tópicos: idade; sexo; data da queimadura, internaçao e alta hospitalar; superfície corpórea queimada (SCQ), áreas envolvidas na queimadura; agente etiológico e motivo da lesao; quantidade de procedimentos realizados; tempo total de internaçao hospitalar, em enfermaria e na Unidade de Terapia Intensiva (UTI); necessidade de ventilaçao mecânica (VM) e traqueostomia; desfecho da internaçao (alta ou óbito) e se realizou fisioterapia no período.

Os dados coletados foram organizados e inseridos na planilha, Microsoft® Excel 2010. Para análise estatística, utilizou-se o programa GraphPad Prism® 6, sendo verificada a normalidade de distribuiçao dos dados por meio do teste Shapiro-Wilk. Variáveis como idade, percentagem da SCQ, dias de internaçao hospitalar, total de dias em enfermaria e em UTI e VM estao apresentadas em mediana com seus respectivos intervalos interquartílicos 25-75%, sendo a significância estabelecida em 5% (p<0,05).

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo Seres Humanos da Universidade Estadual de Londrina (Parecer Nº 357.393).


RESULTADOS

No período entre maio de 2011 e fevereiro de 2014 foram internados 560 pacientes vítimas de queimadura no CTQ/HUL, sendo 177 (32%) crianças e adolescentes, na faixa etária entre 0 a 17 anos, com a mediana da idade de 4 [2-10] anos. Quanto ao sexo, a maior parte da amostra infantil era masculina (n=118; 67%), e o subgrupo constituído por crianças pré-escolares foram os mais envolvidos nos acidentes por queimaduras (Tabela 1). O tempo de internaçao total foi de 12 [5-15] dias e a SCQ de 8,5% [4-15].




Os acidentes de queimadura ocorreram, em sua maioria, no próprio domicílio e a escaldadura foi o agente causal em 53% dos casos, sendo que 70% tiveram múltiplas regioes do corpo acometidas e 6% foram a óbito (Tabela 2). A Figura 1 ilustra, mais detalhadamente, a distribuiçao do agente causal em relaçao à faixa etária da populaçao estudada.




Figura 1 - Atendimentos decorrentes de queimaduras segundo a faixa etária e agente causal das crianças e adolescentes internados no CTQ/HU/UEL - maio/2011 a fevereiro/2014.



Em relaçao aos procedimentos médicos realizados para o tratamento da queimadura, 107 necessitaram de desbridamento, 67 fizeram enxertia de pele, nove realizaram escarotomia e 58 nao foram submetidos a nenhum desses procedimentos. A fisioterapia foi realizada em todos os pacientes pediátricos, independentemente do tempo de internaçao, tanto em enfermaria quanto na UTI.

A necessidade de tratamento em UTI ocorreu em 41 (23%) pacientes, tendo sido a mediana de permanência de 5 [2-12] dias. Na UTI, 18 (43,9%) dos pacientes precisaram de VM e permaneceram em assistência ventilatória por 4 [2-7,5] dias. Vale destacar que, no prontuário de quatro pacientes em UTI, as informaçoes estavam incompletas; três pacientes necessitaram ser traqueostomizados e outros 10 indivíduos foram a óbito.


DISCUSSAO

Estudos epidemiológicos, a partir de registros nacionais e internacionais, sao extremamente importantes para uma melhor orientaçao das práticas de promoçao de saúde, como campanhas de prevençao, e melhoria da relaçao custo-efetividade no cuidado ao queimado16. O presente estudo analisou todos os prontuários da populaçao infanto-juvenil, de 0 a 17 anos, vítimas de queimaduras atendidas no período de maio de 2011 até fevereiro de 2014, no CTQ/HU/UEL, por se tratar de uma ala de referência no tratamento do paciente queimado.

Em conformidade com outros estudos epidemiológicos realizados em diversas regioes do mundo envolvendo a faixa pediátrica16-21, houve maior predominância do sexo masculino, ocorrência de acidentes em ambiente domiciliar e o líquido superaquecido como agente causal. Conforme Blank22, o sexo é um dos fatores pré-evento a ser analisado, pois a partir do primeiro ano de vida os meninos têm o dobro de chance de sofrer injúrias do que as meninas, inclusive queimaduras. Outros autores relatam que há uma maior tendência de brincadeiras de maior risco realizadas por meninos23.

A mediana de idade encontrada foi de 4 anos, sendo que os pré-escolares foram os maiores envolvidos, o que vai de encontro com o estudo de Fernandes et al.23, em que os maiores envolvidos eram crianças menores de 7 anos. Em estudo realizado na Turquia, envolvendo as crianças que sofreram injúria térmica de idade igual ou inferior a 7 anos, foi descrito que nessa faixa etária as crianças apresentam grande curiosidade e vontade de tocar objetos próximos a elas, e, além disso, há maior dependência dos pais ou cuidadores, sendo que certa negligência parental pode ter desempenhado papel importante na injúria por queimadura nessas crianças18.

A prevençao de injúrias por queimaduras em crianças deveria ser uma prioridade, e poderia ser substancialmente reduzida se as crianças fossem mantidas afastadas da cozinha durante o preparo das refeiçoes, e bancadas estivessem em altura apropriada para evitar o alcance e derramamento de objetos e/ou líquidos aquecidos24. Sendo assim, estudos epidemiológicos sao necessários para identificaçao dos grupos alvos para a intervençao apropriada24, já que a grande maioria das injúrias por queimaduras permanecem acidentais e, portanto, sao preveníveis, especialmente em crianças16.

O ambiente escolar tem se mostrado como um bom local para promoçao de saúde. Autores brasileiros realizaram, a partir da análise diagnóstica inicial, em uma Escola Municipal de Educaçao Infantil, envolvendo alunos do Pré II, nas idades de 5 e 6 anos, açoes educativas sobre riscos para acidentes, incluindo as queimaduras, e possíveis formas de prevençao25.

Em um estudo realizado no Canadá, que explora as causas externas envolvidas em acidentes com crianças de 0 a 6 anos, ressalta-se que as crianças estao expostas a riscos variados, influenciadas pelas características físicas, como destreza, alcance e força; e cognitivas-sociais, como curiosidade e julgamento, e a cada nova fase no desenvolvimento há novos riscos de acidentes26.

A adequada supervisao é parte essencial para a prevençao de acidentes em casa, exigindo atençao e proximidade dos pais ou cuidador; também, a avaliaçao dos riscos, de modo a antecipá-los, afastando ou tornando-os indisponíveis às crianças, somada à educaçao de pais ou cuidadores e das próprias crianças, podem ajudar a minimizar os riscos de acidentes26,27.

Quando analisadas, separadamente, as diferentes faixas etárias, foi observado que nos lactentes houve apenas dois agentes causais, o escaldo e o contato, visto que, nessa idade, a dependência dos pais é alta e correlacionando a lesao com descuido dos mesmos. Nesse contexto, é relevante o conhecimento dos familiares acerca dos principais fatores de risco das queimaduras, que pode ser adquirido por meio de campanhas educativas, que têm mostrado bom potencial informativo28.

Na idade pré-escolar, o principal agente também foi o escaldo, porém outros agentes como o fogo e a explosao também fizeram parte do quadro epidemiológico. Em estudo brasileiro, observou-se que os familiares realizam atividades de risco para queimaduras na presença das crianças ou permitem, sem cautela, que as mesmas brinquem com os próprios agentes causais, como álcool e recipientes contendo líquidos superaquecidos29.

No presente estudo a mediana da área queimada foi de 8,5%, e houve múltiplas regioes acometidas pela queimadura, seguida de lesoes nos membros superiores, resultado que se assemelha com os achados da literatura6. Outro estudo realizado em Centro de Queimados mostrou que a média da SCQ foi de 15%30. Pode-se relacionar a queimadura em membros superiores com a posiçao da criança na hora do acidente, uma vez que puxam para si objetos contendo líquidos aquecidos como panelas e travessas, geralmente encontradas em superfícies mais altas que a criança31.

Foi constatada a média de 12 dias de internaçao, valor menor do que o encontrado em outro trabalho realizado no mesmo campo de estudo, porém em período anterior, que encontrou média de 16 dias de internaçao30. Tal reduçao pode estar relacionada à percentagem média de SQC também ter sido menor30.

Como no estudo de Millan et al.6, a maioria das crianças necessitou de ao menos um procedimento cirúrgico, sendo o mais frequente o desbridamento seguido da enxertia. Em estudo realizado no maior centro de queimados da América Latina21, em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, no período de fevereiro de 2009 a julho de 2010, envolvendo 687 indivíduos de todas as faixas etárias, foram realizados 984 desbridamentos e 584 enxertias.

Em relaçao ao desfecho ocorrido nesse período, 6% dos indivíduos foram a óbito, resultado que corrobora a percentagem encontrada na literatura32 em que 5,8% das crianças internadas por queimaduras faleceram. Já em uma revisao sistemática de estudos considerando de 1985 até o ano de 2009, envolvendo aspectos epidemiológicos de indivíduos gravemente queimados (envolvendo hospitalizaçao) na Europa, o índice de mortalidade estava entre 1,4 e 18%16.

A internaçao em UTI foi necessária em 23 % dos casos com mediana de 5 [2-12] dias de internaçao, valores semelhantes já foram citados na literatura. Autores33 em estudo envolvendo pacientes queimados em Salvador, BA, Brasil, constataram que 25,4% dos pacientes necessitaram de cuidados na UTI com média de permanência de 6,4 dias.

Quando analisada a necessidade de VM, dos pacientes que permaneceram em UTI, 43,9% utilizaram assistência ventilatória com mediana de 4 [2-7,5] dias, valores inferiores se comparados com outro estudo envolvendo crianças em UTI vítimas de queimadura, em que a ventilaçao mecânica foi observada em 45,5% dos casos com mediana de 7,5 dias de permanência34. O uso de ventilaçao mecânica pode causar complicaçoes respiratórias e, nesse contexto, a fisioterapia é fundamental e eficaz, sendo necessária a comunicaçao e cooperaçao entre médico e fisioterapeuta no ambiente da UTI para otimizar o tratamento do paciente35. O atendimento da fisioterapia para todos os pacientes internados, tanto em UTI como na enfermaria, é um dado que mostra a importância dada à assistência desses profissionais da saúde no CTQ, mostrando que a sua atuaçao já está bem estabelecida nesse serviço.

Quando analisado o envolvimento dos profissionais da saúde com as crianças e adolescentes queimados, em uma Unidade de Terapia de Queimados, autores23 observaram que as equipes médica e de enfermagem estavam 100% na assistência, seguidos dos psicólogos, e os fisioterapeutas com 172 atendimentos, considerando o total de 289 pacientes.

Em outro estudo3 foi demonstrado que a maior parte dos pacientes relataram ter resultados satisfatórios após o atendimento da fisioterapia, sendo eficaz no processo de reabilitaçao, agindo de forma preventiva ou reduzindo sequelas funcionais e estéticas. Há na literatura diferentes formas de abordagem fisioterapêutica para assistência do paciente queimado, incluindo modalidades de massoterapia36, abordagem respiratória37,38, exercícios físicos para melhora da força muscular39-41 e melhora da funçao40,42. Os resultados do estudo de Santana et al.43 mostraram melhora significativa no edema após os atendimentos de fisioterapia, bem como, aumento relevante de amplitude de movimento.

Em revisao de literatura44, os autores ressaltam que a queimadura nao envolve apenas a lesao na pele, portanto, desfechos funcionais e psicológicos devem ser avaliados e tratados adequadamente. Sendo assim, o programa terapêutico é essencial no paciente queimado, com foco nas amplitudes de movimento, força muscular, endurance, mobilidade, marcha e reintegraçao do indivíduo na comunidade.

Como limitaçoes do estudo, destaca-se a dificuldade em encontrar informaçoes precisas nos prontuários, considerando a falha na descriçao das condutas hospitalares e dados do paciente, sendo que em alguns casos também houve dificuldade na compreensao da escrita. Nesse contexto, nota-se a necessidade da evoluçao mais organizada dos prontuários e a descriçao detalhada das condutas, visando à apuraçao mais acurada de dados epidemiológicos. Outros autores23,45 também citam o problema de omissao de informaçoes em prontuários médicos, resultando na dificuldade em obter-se os registros, pois, muitas vezes, informaçoes importantes nao estao documentadas.


CONCLUSAO

Os resultados do estudo apontam que a fase mais suscetível à queimadura é a pré-escolar, com predominância no sexo masculino, sendo que os acidentes ocorrem no âmbito domiciliar por escaldaduras, acometem várias regioes do corpo e demandam internaçao e vários procedimentos terapêuticos. Assim, programas preventivos devem dar atençao especial à populaçao pediátrica na faixa etária entre os 2 e 6 anos, com ênfase nos cuidados no domicílio.


REFERENCIAS

1. World Health Organization. Burns; 2014. [Cited 2016 Ago 10]. Available from: http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs365/en/

2. Crisóstomo MR, Serra MCVF, Gomes DR. Epidemiologia das queimaduras. In: Maciel E, Serra MC. Tratado de queimaduras. Sao Paulo: Atheneu; 2006.

3. Albuquerque MLL, Silva GPF, Diniz DMSM, Figueiredo AMF, Câmara TMS, Bastos VPD. Análise dos pacientes queimados com sequelas motoras em um hospital de referência na cidade de Fortaleza-CE. Rev Bras Queimaduras. 2010;9(3):89-94.

4. Cruz BF, Cordovil PBL, Batista KNM. Perfil epidemiológico de pacientes que sofreram queimaduras no Brasil: revisao de literatura. Rev Bras Queimaduras. 2012;11(4):246-50.

5. Kemp AM, Jones S, Lawson Z, Maguire SA. Patterns of burns and scalds in children. Arch Dis Child. 2014;99(4):316-21.

6. Millan LS, Gemperli R, Tovo FM, Mendaçolli TJ, Gomez DS, Ferreira MC. Estudo epidemiológico de queimaduras em crianças atendidas em hospital terciário na cidade de Sao Paulo. Rev Bras Cir Plást. 2012;27(4):611-5.

7. Vale ECS. Primeiro atendimento em queimaduras: a abordagem do dermatologista. An Bras Dermatol. 2005;80(1):9-19.

8. Gawryszewski VP, Bernal RTI, Silva NN, Morais Neto OL, Silva MMA, Mascarenhas MDM, et al. Atendimentos decorrentes de queimaduras em serviços públicos de emergência no Brasil, 2009. Cad Saúde Pública. 2012;28(4):629-40.

9. Souza VCS. Abordagem fisioterapêutica da criança queimada. In: Maciel E, Serra MCVF. Tratado de queimaduras. Sao Paulo: Atheneu; 2006.

10. Azevedo AVS. Equipe de saúde e o brincar da criança com queimaduras. Estud Psicol. 2013;30(1):57-65.

11. Castro ANP, Silva DMA, Vasconcelos VM, Lima Júnior EM, Camurça MNS, Martins MC. Sentimentos e dúvidas do paciente queimado em uma unidade de referência em Fortaleza-CE. Rev Bras Queimaduras. 2013;12(3):159-64.

12. Júnior GFP, Vieira ACP, Alves GMG. Avaliaçao da qualidade de vida de indivíduos queimados pós alta hospitalar. Rev Bras Queimaduras. 2010;9(4):140-5.

13. Rocha MS, Rocha ES, Souza JPC. Fisioterapia em queimados: uma pesquisa bibliográfica acerca dos principais recursos fisioterapêuticos e seus benefícios. Tema Rev Eletrônica Ciênc. 2010;9(13/14).

14. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Coordenaçao da Saúde da Criança e do Adolescente. Programa do Adolescente. Bases Programáticas. 2a ed. Brasília: Ministério da Saúde; 1996.

15. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Atençao Básica. Saúde da Criança: acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil. Secretaria de Políticas de Saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2002.

16. Brusselaers N, Monstrey S, Vogelaers D, Hoste E, Blot S. Severe burn injury in Europe: a systematic review of the incidence, etiology, morbidity, and mortality. Crit Care. 2010;14(5):R188.

17. Aragao JA, Aragao MECS, Filgueira DM, Teixeira RMP, Reis FP. Estudo epidemiológico de crianças vítimas de queimaduras internadas na Unidade de Tratamento de Queimados do Hospital de Urgência de Sergipe. Rev Bras Cir Plást. 2012;27(3):379-82.

18. Balseven-Odabaşi A, Tümer AR, Keten A, Yorganci K. Burn injuries among children aged up to seven years. Turk J Pediatr. 2009;51(4):328-35.

19. D'Souza AL, Nelson NG, McKenzie LB. Pediatric burn injuries treated in US emergency departments between 1990 and 2006. Pediatrics. 2009;124(5):1424-30.

20. Fukunishi K, Takahashi H, Kitagishi H, Matsushima T, Kanai T, Ohsawa H, et al. Epidemiology of childhood burns in the critical care medical center of Kinki University Hospital in Osaka, Japan. Burns. 2000;26(5):465-9.

21. Leao CEG, Andrade ES, Fabrini DS, Oliveira RA, Machado GLB, Gosntijo LC. Epidemiology of burns in Minas Gerais. Rev Bras Cir Plást. 2011;26(4):573-7.

22. Blank D. Controle de injúrias sob a ótica da pediatria contextual. J Pediatr (Rio J). 2005;81(5 Suppl):S123-36.

23. Fernandes FMFA, Torquato IMB, Dantas MSA, Pontes Júnior FAC, Ferreira JA, Collet N. Queimaduras em crianças e adolescentes: caracterizaçao clínica e epidemiológica. Rev Gaúch Enferm. 2012;33(4):133-41.

24. Golshan A, Patel C, Hyder AA. A systematic review of the epidemiology of unintentional burn injuries in South Asia. J Public Health (Oxf). 2013;35(3):384-96.

25. Nascimento EN, Gimeniz-Paschoal SR, Sebastiao LT, Ferreira NP. Açoes intersetoriais de prevençao de acidentes na educaçao infantil: opinioes do professor e conhecimentos dos alunos. J Hum Growth Dev. 2013;23(1):99-106

26. Flavin MP, Dostaler SM, Simpson K, Brison RJ, Pickett W. Stages of development and injury patterns in the early years: a population-based analysis. BMC Public Health. 2006;6:187.

27. Jonkheijm A, Zuidgeest JJ, van Dijk M, van As AB. Childhood unintentional injuries: supervision and first aid provided. Afr J Paediatr Surg. 2013;10(4):339-44.

28. Gimeniz-Paschoal SR, Nascimento EN, Pereira DM, Carfalho FF. Açao educativa sobre queimaduras infantis para familiares de crianças hospitalizadas. Rev Paul Pediatr. 2007;25(4):331-6.

29. Vendrusculo TM, Balieiro CRB, Echevarría-Guanilo ME, Farina Junior JA, Rossi LA. Queimaduras em ambiente doméstico: características e circunstâncias do acidente. Rev Latino Am Enfermagem. 2010;18(3):444-51.

30. Dassie LTD, Alves EONM. Centro de tratamento de queimados: perfil epidemiológico de crianças internadas em um hospital escola. Rev Bras Queimaduras. 2011;10(1):10-4.

31. Martins CBG, Andrade SM. Queimaduras em crianças e adolescentes: análise da morbidade hospitalar e mortalidade. Acta Paul Enferm. 2007;20(4):464-9.

32. Machado THS, Lobo JA, Pimentel PCM, Serra MCVF. Estudo epidemiológico das crianças queimadas de 0-15 anos atendidas no Hospital Geral do Andaraí, durante o período de 1997 a 2007. Rev Bras Queimaduras. 2009;8(1):3-9.

33. Greco Júnior JB, Moscozo MVA, Lopes Filho AL, Menezes CMG, Tavares FMO, Oliveira GM, et al. Tratamento de pacientes queimados internados em hospital geral. Rev Bras Cir Plást. 2007;22(4):228-32.

34. Francisco T, Nóbrega S, Valente R, Santos M, Pereira G, Estrada J, et al. Grande queimado numa Unidade de Cuidados Intensivos Pediátricos - experiência de 20 anos. Nascer Crescer. 2013;22(3):151-7.

35. Carmona F. Ventilaçao mecânica em crianças. Medicina. 2012;45(2):185-96.

36. Field T. Massage therapy for skin conditions in young children. Dermatol Clin. 2005;23(4):717-21.

37. Ferreira TCR, Carepa SS, Spinelli JL, Bastos JO, Costa LR. Avaliaçao da mecânica respiratória em pacientes queimados com curativo oclusivo. Rev Bras Queimaduras. 2011;10(2):50-6.

38. Souza TR, Santos RT, Olivatto RM. Treinamento muscular respiratório em lesao inalatória: relato de caso. Rev Bras Queimaduras. 2009;8(3):110-4.

39. Al-Mousawi AM, Williams FN, Mlcak RP, Jeschke MG, Herndon DN, Suman OE. Effects of exercise training on resting energy expenditure and lean mass during pediatric burn rehabilitation. J Burn Care Res. 2010;31(3):400-8.

40. Cucuzzo NA, Ferrando A, Herndon DN. The effects of exercise programming vs traditional outpatient therapy in the rehabilitation of severely burned children. J Burn Care Rehabil. 2001;22(3):214-20.

41. Suman OE, Spies RJ, Celis MM, Mlcak RP, Herndon DN. Effects of a 12-wk resistance exercise program on skeletal muscle strength in children with burn injuries. J Appl Physiol (1985). 2001;91(3):1168-75.

42. Narikawa R, Michelski DA, Hiraki PY, Ueda T, Nakamoto HA, Tuma Junior P, et al. Análise epidemiológica da mao queimada no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de Sao Paulo. Rev Bras Queimaduras. 2011;10(3):89-92.

43. Santana CML, Brito SF, Costa ACSM. Importância da fisioterapia na reabilitaçao do paciente queimado. Rev Bras Queimaduras. 2012;11(4):240-5.

44. Rahman MS, Shakoor MA. Concepts in Rehabilitation of Burn Patients. J Bangladesh Coll Phys Surg. 2007;25(3):139-43.

45. Mendes CA, Sá DM, Padovese SM, Cruvinel SS. Estudo epidemiológico de queimaduras atendidas nas Unidades de Atendimento Integrado de Uberlândia-MG entre 2000 a 2005. Rev Bras Queimaduras. 2009;8(1):18-22.









Recebido em 20 de Junho de 2016.
Aceito em 9 de Agosto de 2016.

Local de realização do trabalho: Centro de Tratamento de Queimados - Hospital Universitário de Londrina. Londrina, PR, Brasil.

Os autores declaram não haver conflitos de interesse.


© 2024 Todos os Direitos Reservados