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Artigo Especial

Proposal of simple and inexpensive method for the dynamic study of sweating in skin restored after second-degree burns

Proposição de método simples e barato para o estudo dinâmico da sudorese na pele restaurada pós-queimaduras de segundo grau

David S. Gomez1; Urio Mariani1; Rolf Gemperli1; Adolfo A. Leirner2; Marcelo Mazzetto3; João R. Sampel4; Marcus Castro Ferreira5

ABSTRACT

INTRODUCTION: An integrated system to stimulate sweating and evaluate it through dynamic and continuous digital recording is described in this article.

METHODS: It consists of a small portable device to stimulate sweating, running a 9-volt battery. The drops of sweat produced are monitored and can be photographed sequentially or continuously recorded on digital video by camera positioned at some distance from the skin. The images are then analyzed by software able of counting the drops at specific time, being able to monitor their development to its confluence.

CONCLUSION: The small size and weight make it easily transportable. It is thus possible to record continuous and dynamic analysis of sweating, using a national method, simple, cheap and not very laborious.

Keywords: Sweating. Iontophoresis. Burns. Integumentary system. Video recording.

RESUMO

INTRODUÇAO: Um sistema integrado para estimular a sudorese e avaliá-la dinâmica e continuadamente com o uso de gravaçao digital é descrito nesse artigo.

MÉTODO: Consiste de um pequeno aparelho portátil para estimular a sudorese, funcionando a bateria de 9 volts. As gotas de suor produzidas sao monitoradas e podem ser sequencialmente fotografadas ou continuadamente gravadas em vídeo digital por câmera posicionada a certa distância da pele. As imagens sao entao analisadas por um programa de computador capaz de contar as gotas em momentos específicos, podendo-se acompanhar o desenvolvimento delas até sua confluência.

CONCLUSAO: O pequeno tamanho e peso do equipamento fazem-no facilmente transportável. É possível, assim, a gravaçao continuada e análise dinâmica da sudorese, utilizando um método nacional, simples, barato e pouco trabalhoso.

Palavras-chave: Sudorese. Iontoforese. Queimaduras. Tegumento comum. Gravação em vídeo.

A pele restaurada (PR) pós-queimadura vem sendo objeto de estudo na Divisao de Queimaduras do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de Sao Paulo há algum tempo. Tal interesse deve-se à grande ocorrência desse tipo de tegumento nos doentes portadores de queimaduras, chegando a 80% do total do tegumento curado1, tendo se constituído, inclusive, em assunto de duas Teses de Doutoramento2,3.

Sua importância decorre também do fato de serem escassos na literatura trabalhos prévios estudando esse tegumento restaurado.

Cientes de sua importância, continuamos nessa linha de pesquisa e nos propusemos a avaliar a capacidade sudorípara dessa pele, uma vez que sabemos que queimaduras de terceiro grau, cicatrizadas espontaneamente ou enxertadas, nao suam.

Assim sendo, um doente hipotético com 20% de queimadura de segundo grau, associada a mais 20% de terceiro grau, necessitaria ainda de algo a mais de 20% de superfície corpórea como área doadora para enxertia laminar nas áreas de terceiro grau. Se houver comprometimento importante da sudorese também nos 40% da pele restaurada (20% das queimaduras de 2° grau e 20% das áreas doadoras), pode-se concluir que haja provável comprometimento da homeostase térmica do indivíduo, que ficaria, assim, com 60% de sua superfície corpórea prejudicada na dissipaçao de calor. Esse prejuízo na sudorese acarretaria, também, alteraçao nas funçoes normais da pele do doente, como ressecamento, descamaçao, prurido e dificuldade de preensao quando a pele acometida for da regiao palmar.

A preocupaçao em se obter métodos ideais que evidenciem a sudorese remonta à década de 20 do século passado4. Desde entao, a literatura descreve métodos com algumas variaçoes, tanto no que se refere ao estímulo da sudorese, quanto à detecçao e à documentaçao da mesma.

Para provocar a sudorese, sao descritos métodos que vao desde o simples estímulo térmico5, à injeçao intradérmica de drogas, como a metilcolina6, até a introduçao do fármaco na derme utilizando-se a iontoforese7, com corrente elétrica contínua8 ou alternada.

Julgamos confiável e pouco invasivo o método que utiliza a iontoforese para administrar percutaneamente estimulantes da sudorese, razao pela qual o escolhemos para estudar a sudorese em pele restaurada pós-queimadura. Começamos utilizando um aparelho como o descrito por Gibson & Cooke8, que fornece corrente contínua, e usando eletrodos grandes de chumbo, o positivo, sobre material esponjoso embebido em cloridrato de pilocarpina a 2%, e o negativo, sobre NaCl a 0,9%. Depois de repetidas tentativas, nao conseguimos constância da sudorese. Verificamos, também, que esse aparelho, assim como outros similares, tem um tamanho relativamente grande, o que dificultava seu transporte, juntamente com os eletrodos e outros materiais necessários à execuçao da iontoforese para produçao de suor. Além disso, era necessário que dispuséssemos de uma tomada de energia elétrica no local para ligar o aparelho, o que com frequência causa preocupaçao aos pacientes estudados.

Com o intuito de superar esses problemas e obtermos maior facilidade operacional, optamos por reduzir o tamanho do aparelho e lhe fornecer energia oriunda de baterias. O projeto foi viabilizado na Divisao de Bioengenharia do Instituto do Coraçao do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de Sao Paulo (InCor-HCFMUSP).

Quanto ao registro da sudorese, sao várias as dificuldades relatadas na literatura. O método ideal seria aquele que reunisse várias qualidades, dentre as quais podemos citar: 1) simplicidade; 2) eficácia constante; 3) boa visualizaçao do suor; 4) durabilidade do registro da sudorese; 5) baixo custo; 6) nao causar manchas indeléveis na pele ou em tecidos empregados para sua limpeza. Os métodos tradicionalmente descritos na literatura atendem a poucos desses requisitos.

Ao longo dos anos, têm sido usados desde soluçoes corantes do suor, como a alcoólica de iodo previamente aplicada à pele6, passando por pulverizaçoes de amido iodado9, até métodos que se utilizam da impressao das gotas de suor em substâncias plásticas ou em silicone de moldagem odontológica10. Esse último, tido como dos melhores até o começo da década de 2000, consiste em estimular a sudorese e, após enxugar-se a pele, aplicar na mesma um fino filme de silicone líquido. Esse silicone é misturado, imediatamente antes de sua aplicaçao, com um catalisador que provoca a polimerizaçao e solidificaçao do material em cerca de 90 segundos. Durante esse tempo, as gotículas de suor que saem das glândulas sudoríparas têm, em tese, tempo suficiente para provocar impressoes no filme de silicone hidrófobo, ainda líquido, acolado à pele. Após a polimerizaçao, o silicone solidificado é retirado manualmente e pode-se fazer a contagem das gotas de suor, pelo número de impressoes deixadas no material pelas gotas5.

Usando esse método verificamos, porém, algumas impropriedades em documentar padronizadamente a sudorese através da impressao das gotas no filme de silicone, já que dificilmente se consegue em todas as amostragens uma mistura do silicone com seu ativador em proporçoes sempre idênticas, assim como também nem sempre essa mistura é absolutamente homogênea. Tais fatos dao, como consequência, diferentes tempos de polimerizaçao do material, com consequentes irregularidades na demarcaçao das gotas de suor em cada amostra analisada, prejudicando as comparaçoes.

Mesmo quando tudo corre bem, o resultado obtido expressa a sudorese "estática", no exato momento da polimerizaçao do silicone.

Como atribuímos grande importância a se estudar dinâmica e continuadamente a formaçao e o crescimento das gotas de suor, até sua confluência, idealizamos este método simples, doméstico, barato e com equipamento facilmente portátil. Recentemente, observamos referência bibliográfica de método similar, porém com aparelho e tecnologia estrangeiros e caros11.

Pensando à frente, o objetivo deste estudo é proporcionar condiçoes para verificar se há comprometimento da sudorese, em que intensidade e por quanto tempo, na pele restaurada após a queimadura de segundo grau, comparando-a à pele sa em área simétrica do corpo, o que estamos realizando na sequência.


MÉTODO

Montou-se, na Divisao de Bioengenharia do Instituto do Coraçao do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de Sao Paulo - InCor - HCFMUSP, um aparelho miniaturizado de iontoforese, com circuito fixado dentro de uma pequena caixa plástica, conectado a um amperímetro fixado externamente à mesma (Figura 1). O diagrama elétrico é demonstrado na Figura 2. A energia origina-se de duas baterias internas, de 9 Volts (9 V) cada, que fornecem a corrente contínua regulável.


Figura 1 - Aparelho miniaturizado de iontoforese.


Figura 2 - Esquema elétrico do aparelho de iontoforese.



Este aparelho, para iontoforese de substâncias eletrolíticas, foi testado para a produçao de suor na pele sa com o uso de cloridrato de pilocarpina a 2%. Os dois eletrodos, também reduzidos para um tamanho de 2 x 3 cm, feitos de aço, nao devem entrar em contato direto com a pele, mas sim sobre tecido de compressa cirúrgica embebido pelo fármaco, cloridrato de pilocarpina 2% no pólo positivo, e soro fisiológico, no pólo negativo (Figura 3).


Figura 3 - Eletrodos posicionados para iontoforese.



Após o posicionamento dos eletrodos, aplicamos corrente contínua de 2,5 mili-Ampères (mA) por 5 minutos para a produçao do suor. O mesmo método está sendo utilizado nos pacientes estudados, no trabalho clínico que estamos desenvolvendo, iniciando-se pelo estímulo da área de pele sa, seguido pelo estímulo na área restaurada simétrica.

Para a captaçao das imagens da sudorese, foi utilizada uma câmera filmadora digital acoplada a um suporte articulado, de modo a fixar a mesma na posiçao ideal para a filmagem, que transcorre durante os minutos necessários para cada caso estudado (Figura 4).Tais imagens sao a seguir analisadas em computador com o uso de programa específico (The Playa - Version 0.6.4 - DivXNetworks, Inc.), contando-se as gotas de suor, que aparecem como pontos brilhantes, e avaliando-se o tempo necessário para a confluência das mesmas (Figura 5).


Figura 4 - Visualizaçao das gotas de suor após a iontoforese.


Figura 5 - Contagem das gotas de suor pelo software.



DISCUSSAO

Durante os testes iniciais, realizados em voluntários da equipe antes da definiçao final do método, utilizando-se papel-filtro embebido nas soluçoes, ocorreram alguns casos de queimaduras puntiformes (mais ou menos 2 mm de diâmetro), provavelmente decorrente da concentraçao de corrente nesses pontos. Quando substituímos o papel-filtro por pedaços de compressa cirúrgica, acabaram-se esses problemas.

Com a aplicaçao do método descrito, obtivemos sistematicamente a sudorese com aplicaçao de corrente contínua de 2,5 mA por 5 minutos, sudorese que perdurou por cerca de 30 minutos.

A documentaçao em vídeo digital permite a identificaçao adequada das gotas de suor, assim como a contagem eletrônica das gotas com o uso de software analisador de imagens.

Este método de estudo e documentaçao da sudorese, além de nao sofrer as influências das variáveis nem sempre controláveis dos outros métodos, permite um estudo dinâmico da atividade glandular, além de possibilitar registro contínuo, permanente e imediato da sudorese, em arquivo digitalizado. É ainda, como referido, um método simples e barato, nao necessitando tecnologia sofisticada e de alto custo.

Esses testes comprovaram, assim, a eficiência do aparelho e a inocuidade do método, quando bem aplicado.


REFERENCIAS

1. Mariani U, Gomez DS, Carvalho DA, Ferreira MCF. The tegument resulting from the healing of burns. Rev Hosp Clin Fac Med Sao Paulo. 1995;50(3):140-6.

2. Mariani U. Enxertia de pele restaurada pós-queimadura [Tese de Doutorado]. Sao Paulo:Universidade de Sao Paulo, Faculdade de Medicina;1972.

3. Gomez DS. Contribuiçao para o estudo da pele restaurada: pesquisa da contraçao e miofibroblastos [Tese de Doutorado]. Sao Paulo: Universidade de Sao Paulo, Faculdade de Medicina;1995.

4. Minor V. Ein neues verfahren zu der klinischen untersuchung der schweissabsonderung. Dtsch Z Nervenheilkd. 1927;101:302-6.

5. Harris DR, Polk BF, Willis I. Evaluating sweat gland activity with imprint techniques. J Invest Dermatol. 1972;58(2):78-84.

6. Muller SA, Kierland RR. The use of a modified starch-iodine test for investigating local sweating responses to intradermal injection of methacholine. J Invest Dermatol. 1959;32(2, Part 1):126-8.

7. Kassan DG, Lynch AM, Stiller MJ. Physical enhancement of dermatologic drug delivery: iontophoresis and phonophoresis. J Am Acad Dermatol. 1996;34(4):657-66.

8. Gibson LE, Cooke RE. A test for concentration of electrolytes in sweat in cystic fibrosis of the pancreas utilizing pilocarpine by iontophoresis. Pediatrics. 1959;23(3):545-9.

9. Sato KT, Richardson A, Timm DE, Sato, K. One-step iodine starch method for direct visualization of sweating. Am J Med Sci. 1988;295(6):528-31.

10. Rook A, Wilkinson DS, Ebling FJG. Textbook of dermatology. 6th ed. Oxford:Blackwell;1998. p.1985.

11. Gin H, Baudoin R, Raffaitin CH, Rigalleau V, Gonzalez C. Non-invasive and quantitative assessment of sudomotor function for peripheral diabetic neuropathy evaluation. Diabetes Metab. 2011;37(6):527-32.










1. Cirurgiao plástico da Divisao de Cirurgia Plástica e Queimaduras do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de Sao Paulo (HCFMUSP), Sao Paulo, SP, Brasil.
2. Médico, Engenheiro Eletrônico da Divisao de Bioengenharia do Instituto do Coraçao (InCor) do HCFMUSP, Sao Paulo, SP, Brasil.
3. Engenheiro Eletrônico da Divisao de Bioengenharia do InCor do HCFMUSP, Sao Paulo, SP, Brasil.
4. Técnico em Eletrônica da Divisao de Bioengenharia do InCor do HCFMUSP, Sao Paulo, SP, Brasil.
5. Professor titular da Disciplina de Cirurgia Plástica do HCFMUSP, Sao Paulo, SP, Brasil.

Correspondência:
David S. Gomez
Hospital das Clínicas da FMUSP - Disciplina de Cirurgia Plástica - Instituto Central
Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 255 - 8º andar
Sao Paulo, SP, Brasil - CEP 05403-900
E-mail: davgomez@usp.br

Artigo recebido: 14/6/2011
Artigo aceito: 3/9/2011

Trabalho realizado na Disciplina de Cirurgia Plástica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de Sao Paulo, Sao Paulo, SP, Brasil.

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