ABSTRACT
OBJECTIVE: To analyze the epidemiological profile of patients treated at Burn Care Unit of the Emergency Hospital of Sergipe (HUSE).
METHODS: This work is retrospective, descriptive and quantitative, and it was analyzed 526 medical records obtained from patient registry of Burn Care Unit, from January 2009 to December 2010.
RESULTS: It was observed a higher prevalence of burns among males people, with age between 0 and 6 years old, with incidence at Great Aracaju and showing high rates of burned in the months of May and June. There was prevalence of second-degree burn, with highest concentration in scalding cases, being more prevalent in medium burn. It was found a high rate of patients submitted to physical therapy with a high rate of hospital output.
CONCLUSION: The study showed the burn patients profile at Burn Care Unit/HUSE, referring the importance of better population education and the need policies aimed at preventing and combating child negligence.
Keywords:
Patients. Epidemiology. Burns.
RESUMO
OBJETIVO: Analisar o perfil epidemiológico dos pacientes atendidos na Unidade de Tratamento de Queimados (UTQ) do Hospital de Urgência de Sergipe (HUSE).
MÉTODO: Trata-se de um estudo retrospectivo, descritivo e quantitativo, sendo analisados 526 prontuários obtidos a partir do registro de pacientes da UTQ, no período de janeiro de 2009 a dezembro de 2010.
RESULTADOS: Observou-se maior predominância de queimaduras em indivíduos do gênero masculino, na faixa etária de 0 a 6 anos, com incidência na Grande Aracaju, apresentando altos índices de queimados nos meses de maio e junho. Houve prevalência do 2º grau de queimadura, com maior concentraçao nos casos por escaldadura, sendo mais predominante a de médio porte. Foi constatado alto índice de pacientes submetidos a fisioterapia, com elevada taxa de alta hospitalar.
CONCLUSAO: O estudo demonstrou o perfil dos pacientes queimados da UTQ/HUSE, ressaltando a importância de maior educaçao populacional e necessidade de políticas voltadas a prevençao e combate à negligência infantil.
Palavras-chave:
Pacientes. Epidemiologia. Queimaduras.
Queimaduras podem resultar em deformidades graves, deficiências limitantes, e reaçoes psicológicas adversas com repercussoes sociais, que afetam os pacientes e seus familiares. A epidemiologia dessas lesoes varia de uma parte do mundo para outra ao longo de um determinado tempo e estao relacionadas com práticas culturais, crises sociais e circunstâncias individuais1.
As queimaduras correspondem à quarta causa de morte por injúria nos Estados Unidos e, segundo a Organizaçao Mundial de Saúde (OMS), é a quinta causa de mortes violentas em todo o mundo, sendo responsável por 322.000, em 2002. No Brasil, estima-se que pelo menos 1.000.000 indivíduos queimem-se por ano, sem haver restriçao de sexo, idade, procedência ou classe social, havendo um forte impacto econômico, levando em consideraçao o tempo de tratamento prolongado2.
Essas lesoes podem comprometer diferentes estruturas orgânicas e sao avaliadas em graus, conforme a profundidade do trauma nos tecidos. Outro aspecto importante a ser avaliado refere-se à extensao da superfície corporal queimada (SCQ), a qual deve ser avaliada o mais precisamente possível, por ser um dos fatores que mais influencia na repercussao sistêmica e na sobrevida do paciente3.
Estudar o perfil epidemiológico dos pacientes atendidos nas unidades de tratamento de queimadura torna-se necessário para entender os principais mecanismos do trauma e, a partir daí, criar medidas para reduzir o número de eventos e adequar o atendimento quantitativa e qualitativamente, contribuindo para a elaboraçao de protocolos de cuidados, a fim de assegurar a qualidade da assistência a essa populaçao4.
É de extrema importância, em todas as áreas de atuaçao médica, o conhecimento da epidemiologia, o qual fornece subsídios de avaliaçao e organizaçao de programas de tratamento e campanhas de prevençao4. O interesse em desenvolver esta pesquisa surgiu a partir da escassez de estudos epidemiológicos em nosso município.
O propósito deste estudo foi realizar um estudo epidemiológico dos pacientes atendidos na Unidade de Tratamento de Queimados do Hospital de Urgência de Sergipe (HUSE), no período de 2009 a 2010.
MÉTODOFoi realizado um estudo do tipo retrospectivo, descritivo, com abordagem quantitativa, sendo avaliado um total de 526 prontuários da Unidade de Tratamento de Queimados do Hospital de Urgência de Sergipe, no período de janeiro de 2009 a dezembro de 2010. Foram excluídos da pesquisa os pacientes cujo prontuário nao apresentava dados de forma a preencher todos os questionamentos existentes no protocolo de avaliaçao previamente elaborado pelas pesquisadoras (Apêndice 1).
O projeto foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Tiradentes, sob protocolo de número 220811. Os termos da Resoluçao 196/96, de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde do Ministério de Saúde foram respeitados.
A análise estatística foi efetuada utilizando métodos descritivos e analíticos. Utilizou-se a distribuiçao de frequências e percentuais a partir da tabulaçao dos dados e representaçao gráfica, sendo a análise realizada no programa SPSS versao 15.0 e no Programa Origin versao 8.1.
RESULTADOSForam avaliados 526 prontuários, sendo excluídos 80 por nao apresentarem dados que contemplassem os itens contidos no protocolo de queimados. Após essa triagem, foram considerados 446 prontuários para estudo. Dentre estes, 294 (65,9%) foram de pacientes do gênero masculino e 152 (34,1%) do gênero feminino.
Para a avaliaçao da prevalência da idade, utilizou-se uma estratificaçao em faixas etárias, considerando-se 0-6 anos por representar a primeira infância; 7-12 anos por compreender a segunda infância; 13-59 anos correspondendo à faixa etária adulta; e acima de 60 anos perfazendo a populaçao idosa. A Figura 1 evidenciou a incidência maior de queimaduras na faixa etária entre 0 - 6 anos, com 202 (45,30%) pacientes.
Figura 1 - Distribuiçao dos pacientes por faixa etária.
De acordo com a Secretaria de Estado do Planejamento, em 2007, o Estado de Sergipe foi classificado em oito territórios. A Tabela 1 descreve a classificaçao e demonstra que a prevalência foi maior em indivíduos provenientes da Grande Aracaju, com 266 (59,7%).
A Figura 2 ilustra a distribuiçao mensal do número de pacientes queimados, demonstrando que os meses de maio e junho foram os de maior prevalência, com 52 (11,7%) e 51 (11,4%) casos, respectivamente.
Figura 2 - Distribuiçao mensal do número de pacientes queimados.
Foi observado que, quanto à avaliaçao do grau (1º, 2º e 3º) da queimadura dos pacientes acometidos, o segundo grau foi o de maior prevalência (Figura 3).
Figura 3 - Distribuiçao por grau de queimadura dos pacientes.
Quanto ao agente etiológico, a Tabela 2 demonstra que a prevalência foi maior na escaldadura, onde 238 (53,3%) dos pacientes foram acometidos. Quanto à frequência do porte da queimadura, houve predominância do porte médio com 304 (68,2%), seguido do pequeno porte com 79 (17,7%) e do grande porte com 63 (14,1%).
Em relaçao à frequência de tratamento fisioterapêutico dos 446 pacientes admitidos na unidade, 402 (90,1%) foram submetidos à fisioterapia. Quanto à permanência hospitalar, foi evidenciado que 359 (80,5%) permaneceram na unidade por menos de 15 dias. Do total de 446 pacientes, 432 (96,9%) receberam alta da UTQ e somente 14 (3,1%) foram a óbito.
Na Tabela 3, observa-se que, na faixa etária pediátrica de 0-6 anos (36,1%) e de 7-12 anos (4,7%), houve predominância de queimaduras por escaldadura. Para a faixa etária de 13-59 anos, notou-se prevalência por substância inflamável, com 54 (12,1%) casos. Acima de 60 anos, houve equivalência, sem variaçao entre os agentes causais.
DISCUSSAOOs dados obtidos nesta pesquisa mostraram-se compatíveis com os relatos disponíveis na literatura nacional e internacional, nos quais se obteve maior número de casos de queimados em indivíduos do gênero masculino5-9. Uma justificativa para isso pode estar relacionada ao comportamento diferenciado do gênero masculino em relaçao ao feminino, uma vez que os homens costumam ser menos cautelosos e apresentam características de brincadeiras bruscas e, na maioria das vezes, mais agitadas que as das mulheres10,11.
Neste estudo, a maior prevalência de queimaduras foi em crianças na faixa etária entre 0-6 anos, que é também evidenciada em outras pesquisas, pois, durante a infância, as crianças estao iniciando os primeiros passos, e a circulaçao no interior dos domicílios torna-se mais frequente e permeada de riscos10,12-15, uma vez que nesse período sao ávidas por novas descobertas, exploram o meio ambiente; entretanto, nao têm consciência do perigo a que estao expostas. Esse fato predispoe-nas a sofrerem acidentes no qual muitos destes ocorrem devido à negligência dos adultos no cuidado com as crianças4.
No estudo epidemiológico de Barreto et al.16, os resultados apontam um maior número de pacientes advindos de cidades interioranas do Estado (58,2%). Tal fato pode ser decorrente da falta de hospitalizaçao adequada à vítima de queimadura em seu local de origem17. Nesta pesquisa, quanto à procedência dos pacientes internados, observou-se maior número de casos provenientes da Grande Aracaju, devido à existência de uma UTQ na capital, sendo referência em atendimento especializado no Estado de Sergipe, recebendo pacientes vítimas de queimaduras de todas as faixas etárias e das demais regioes do Estado.
Os meses de maio e junho foram os de maior prevalência de queimadura, com 30,27%. Esses dados corroboram os da pesquisa de Pereira Júnior et al.18, em que se encontrou uma concentraçao maior de queimados no outono, com nove casos (42,9%), e no verao, com cinco casos (23,8%), coincidindo com as férias e com o início do ano letivo para a maioria das crianças.
Quanto à profundidade, Hoch et al.19 observaram que crianças menores de 11 anos apresentaram queimaduras de segundo grau em 39% dos casos; de segundo e terceiro graus, em diferentes áreas do corpo, 40% dos casos; e de terceiro grau em 8% dos casos. No estudo de Cruvinel et al.20, as lesoes de primeiro grau isoladas, e de primeiro e segundo graus combinadas, foram mais frequentes, contribuindo para 102 ocorrências e perfazendo 49,76%. A escaldadura como agente causal em contatos rápidos ocasiona queimaduras de segundo grau, evidenciado no atual estudo, em que cerca de 83,86% dos pacientes avaliados sofreram queimaduras desse grau21,22. A escaldadura foi confirmada como o principal agente etiológico, sugerindo possível negligência dos adultos responsáveis pelas criança15,23.
No estudo de Pereira Júnior et al.18, dos 21 pacientes estudados, foram encontrados dois (9,5%) casos como pequeno queimado, 14 (66,7%) como médio queimado e cinco (23,8%) como grande queimado, no que corrobora o presente estudo, no qual houve predominância de queimaduras de médio porte, com 68,2% dos casos, o que pode ser relacionado com o fato de o 2º grau ser também o de maior prevalência e da observaçao correta dos clínicos quanto à necessidade de cuidados mais intensivos para esse tipo de paciente.
O fisioterapeuta está ativamente envolvido no tratamento precoce e deve desenvolver um programa de recuperaçao, podendo a reabilitaçao pós-cicatrizaçao ser muito menos traumática e mais bem-sucedida. Em média, em 90,1% dos prontuários verificados, constava a realizaçao do tratamento fisioterapêutico. A fisioterapia é essencial durante a cicatrizaçao das lesoes pelo fato de estimular a circulaçao e por promover a tensao no tecido, direcionando a reorganizaçao do colágeno15,24.
No estudo de Daissie et al.10, observou-se que a média de dias de internaçao hospitalar foi de 16,32 ± 18,97 dias, o que ratifica o estudo realizado por Oliveira et al.25, concluindo-se que a média de tempo de internaçao foi de 10 a 20 dias. Na atual pesquisa, a média de permanência hospitalar foi por um período menor de 15 dias em mais da metade (80,5%) dos pacientes, o que é confirmado pelas publicaçoes de Pereira Júnior et al.18 e de Lari et al.8 que referem média de, aproximadamente, 10 a 12 dias de internaçao.
O presente estudo evidencia que 96,9% dos pacientes obtiveram alta da UTQ, ou seja, a taxa de mortalidade foi inferior quando comparada a outros estudos26-28, em que a taxa de mortalidade foi superior à de alta. No estudo de Santana15, a taxa de óbito foi baixa (1%) corroborando a taxa de óbitos existentes nesta pesquisa (3,1%). Isso pode ser explicado pela relaçao com a Disfunçao Múltipla de Orgaos e Sistemas, uma vez que as respostas fisiopatológicas sao sistêmicas e determinam falência de órgaos ou contribuem para as alteraçoes do sistema hematológico12.
CONCLUSAOA partir da pesquisa realizada, percebe-se na UTQ do HUSE, nos anos de 2009 e 2010, houve prevalência de queimaduras na faixa etária de 0-6 anos, do gênero masculino, por escaldadura, de 2º grau, em indivíduos procedentes da Grande Aracaju. Na unidade hospitalar estudada, constatou-se que a fisioterapia é realizada na grande maioria dos pacientes, além de ser observado um elevado índice de alta hospitalar, sugerindo que o serviço de atendimento ao paciente queimado no Estado de Sergipe corresponde às demandas e expectativas da populaçao.
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1. Fisioterapeuta graduada pela Universidade Tiradentes, Aracaju, SE, Brasil.
2. Professora Assistente I e supervisora do estágio Prática Clínica Supervisionada I, fisioterapeuta do Serviço Pediátrico do Hospital de Urgência de Sergipe (HUSE), especialista em Fisioterapia Neurofuncional pela Universidade Gama Filho (RJ) e mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Sergipe, Aracaju, SE, Brasil.
Correspondência:
Izabella Fontes dos Reis
Rua Nossa Senhora das Dores, 916 - Cirurgia - Suíssa
Aracaju, SE, Brasil - CEP 49052-170
E-mail: bella_fontes@hotmail.com
Artigo recebido: 6/6/2011
Artigo aceito: 1/9/2011
Trabalho realizado na Unidade de Tratamento de Queimados (UTQ) do Hospital de Urgência de Sergipe, Aracaju, SE, Brasil.