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Coping e estresse na equipe de enfermagem de um centro de tratamento de queimados

Coping and stress in the nursing staff of a burn treatment center

Liliana Antoniolli1; Maria Elena Echevarría-Guanilo2; Caroline Lemos Martins3; Simone Coelho Amestoy4; Thaís Mirapalheta Longaray5; Sônia Beatriz Cocaro de-Souza6

RESUMO

OBJETIVO: Descrever o estresse e estratégias de coping da equipe de enfermagem atuante em um Centro de Referência em Assistência a Queimados.
MÉTODO: Estudo de abordagem quantitativa transversal, realizado com enfermeiros e técnicos de enfermagem, por meio da aplicaçao de questionário de caracterizaçao, Inventário de Respostas de Coping no Trabalho e Inventário de Estresse entre Enfermeiros. Realizaram-se análises descritivas, de frequência simples e teste de correlaçao de Pearson.
RESULTADOS: A pontuaçao média para estresse ocupacional na equipe de enfermagem foi de 96,3, sendo as relaçoes interpessoais as principais contribuintes para manifestaçoes de estresse (M=41,53). A pontuaçao média de coping foi de 73,53; e as respostas de enfrentamento (M=44,50) foram mais utilizadas pelos profissionais. Obteve-se correlaçao positiva e forte entre as escalas (r=0,70; p<0,05).
CONCLUSAO: A frequente utilizaçao do coping por parte dos profissionais representa importante meio para superaçao de situaçoes de estresse laboral, além de promover saúde e satisfaçao dos profissionais de enfermagem.

Palavras-chave: Adaptação Psicológica. Esgotamento Profissional. Equipe de Enfermagem. Unidades de Queimados.

ABSTRACT

OBJECTIVE: To describe the stress and strategies of coping from the nursing team that works in a Center of Reference and Assistance to Burden People.
METHODS: Transversal and quantitative approaching study performed with nurses and technicians of nursing, through appliance of a questionnaire of characterization, Inventory of Responses of Coping at Work and Inventory of Stress among Nurses. It was performed descriptive analysis with a simple frequency and test of correlation of Pearson.
RESULTS: The average score for occupational stress in the nursing team was 96.3, being the interpersonal relationships the main contributors with stress manifestation (M=41.53). The average score of the coping was 73.53; and the coping responses (M=44.50) were more used by professionals. Positive and strong correlation was obtained between the scales (r=0.70; p<0.05).
CONCLUSION: The frequent using of coping by the professionals represents an important way for overcoming the stressful labor situations. Furthermore, it promotes health and satisfaction from nursing professionals.

Keywords: Adaptation, Psychological. Burnout, Professional. Nursing, Team. Burn Units.

INTRODUÇAO

O estresse pode ser definido como um conjunto de perturbaçoes orgânicas e psíquicas provocadas por vários estímulos ou agentes agressores. A ampla responsabilidade profissional e a exposiçao a intensas emoçoes podem ser estímulos ou agentes geradores, por exemplo, de sentimentos de ameaça ou desafio como resposta às situaçoes vivenciadas1.

Com o intuito de garantir o desenvolvimento das atividades laborais em meio a situaçoes estressoras, os profissionais de enfermagem passam a criar estratégias para superá-las ou neutralizá-las. A este conjunto de esforços cognitivos e comportamentais, conscientemente utilizados pelo indivíduo para administrar o estímulo da relaçao indivíduo/ambiente/estressor, denomina-se coping e/ou estratégias de enfrentamento1,2.

O modelo de coping foi descrito pela primeira vez em 1980, sendo composto por duas categorias funcionais: coping centrado no problema e coping centrado na emoçao. No coping centrado no problema, ocorre a utilizaçao de esforços cognitivos e comportamentais do indivíduo para modificar ou administrar a origem do problema. No coping centrado na emoçao, há a utilizaçao de esforços cognitivos e comportamentais dirigidos a reduzir ou administrar o estresse emocional causado pela situaçao estressora3.

Os enfermeiros constituem um dos grupos mais acometidos pelo estresse no trabalho, devido à responsabilidade de lidar cotidianamente com a dor, vida e morte1,2,4,7. Porém, as estratégias de enfrentamento utilizadas por estes profissionais, ou seja, o coping, ainda é pouco estudado, principalmente no Brasil, dificultando a comparaçao de achados nacionais com outras populaçoes quanto às tentativas desses profissionais para superar as situaçoes estressoras no ambiente de trabalho8.

Entre estas situaçoes estressoras, destaca-se o sofrimento da equipe de enfermagem ao desempenhar determinadas atividades relacionadas, principalmente, com o sofrimento do outro, sobretudo quando a possibilidade do profissional de proporcionar alívio é limitada, como é o caso dos profissionais atuantes em Centros de Referência em Assistência a Queimados (CRAQ). Nestas unidades, procedimentos de higiene corporal e trocas de curativos, realizados pela equipe de enfermagem, representam momentos de intensificaçao e/ou potencializaçao de estresse entre os profissionais, já que estes ao prestarem o cuidado sentem-se responsáveis pelo estímulo e possível acentuaçao da dor e sofrimento do indivíduo queimado9.

A especificidade e complexidade da assistência em unidades de internaçao especializadas, como os CRAQ10, ou em diferentes áreas hospitalares1,7, podem contribuir com o estresse entre a equipe de enfermagem. Desta forma, torna-se importante que os profissionais encontrem estratégias de coping para realizar suas atividades laborais, uma vez que estao expostos a inúmeras situaçoes estressoras provindas de distintas fontes, internas ou externas.

O desenvolvimento de pesquisas nacionais voltadas a esta temática contribuiria com a tomada de decisoes em prol da saúde laboral destes profissionais, auxiliando na identificaçao de meios para promover a qualidade de vida no ambiente laboral, manutençao do equilíbrio emocional, saúde mental e satisfaçao dos profissionais de enfermagem. Contribuindo, como importante mecanismo, para combater o adoecimento, especialmente psíquico, e o absenteísmo1.

Com base no contexto exposto, esta pesquisa visou responder a seguinte questao: Qual o nível de estresse e de coping da equipe de enfermagem atuante em Centro de Referência em Assistência a Queimados? Para tanto, objetivou-se descrever o estresse e estratégias de coping e/ou enfrentamento da equipe de enfermagem atuante em um Centro de Referência em Assistência a Queimados.


MÉTODO

Estudo de abordagem quantitativa transversal, realizado em um Centro de Referência em Assistência a Queimados (CRAQ), localizado no estado do Rio Grande do Sul, Brasil.

Para a coleta de dados, percorreram-se as seguintes etapas: (1) Consulta aos registros do setor de recursos humanos da instituiçao, para identificar o número de profissionais da equipe de enfermagem com vínculo laboral permanente; (2) Contato com os potenciais participantes do estudo e apresentaçao da proposta da pesquisa, convite de participaçao e agendamento da entrevista; (3) Solicitaçao da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido; (4) Entrevista com os participantes, de forma individual e em local reservado, no próprio ambiente de trabalho, tendo sido utilizada a modalidade de aplicaçao clínica, na qual o entrevistador foi responsável pela leitura em voz alta e pausada e o preenchimento dos instrumentos.

A equipe de enfermagem do CRAQ era composta por 16 profissionais, seis enfermeiros e dez técnicos de enfermagem, que atuavam na assistência direta aos indivíduos queimados durante o período de setembro a novembro de 2013. Foram excluídos três profissionais que se encontravam em período de experiência (três primeiros meses de trabalho) no período estabelecido para a coleta de dados.

Utilizaram-se os seguintes instrumentos de medida:

Questionário de caracterizaçao dos participantes, construído pelas autoras para obtençao de dados pessoais e ocupacionais;

Inventário de Estresse em Enfermeiros (IEE), versao final composta de 38 itens validada para o português do Brasil11. Permite avaliar os estressores e sua frequência nas atividades laborais da equipe de enfermagem. Divide-se em três fatores específicos: relaçoes interpessoais (17 itens), papéis estressores da carreira (11 itens) e fatores intrínsecos ao trabalho (10 itens). A pontuaçao é avaliada em escala Likert (1 - 5), e varia de 38 a 190 pontos. Pontuaçao menor ou igual a 95 indica baixo nível de estresse e maior que 95, alto nível de estresse ocupacional; e

Inventário de Respostas de Coping no Trabalho (IRC-T), versao validada para o contexto laboral brasileiro8, composta de 48 itens. Aborda as estratégias de coping dos profissionais no ambiente de trabalho, suas respostas agrupam-se em duas categorias e quatro subcategorias: Respostas de Enfrentamento (24 itens) - raciocínio lógico; reavaliaçao positiva; orientaçao/apoio e; tomada de decisao. Respostas de Evitaçao (24 itens) - racionalizaçao evasiva; aceitaçao resignada; alternativas compensatórias e; extravasamento emocional. Sua pontuaçao é avaliada em escala Likert (0 - 3) e, varia de zero a 144 pontos. Quanto maior a pontuaçao maior a utilizaçao de estratégias de coping no ambiente laboral.

Os dados foram organizados e digitados no Programa Excel-2010 da Microsoft Windows e processados e analisados no programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versao 18.0. Realizaram-se análises descritivas para as variáveis contínuas, de frequência simples para as variáveis categóricas e teste de coeficientes de correlaçao de Pearson para a exploraçao de relaçoes entre as pontuaçoes de coping e estresse, considerando-se para tanto o nível de significância estatística p<0,05. Para a análise dos coeficientes de correlaçao, foi seguida a classificaçao: valores < 0,30 correlaçoes fracas; entre 0,30 a 0,50 correlaçoes moderadas e > 0,50 correlaçoes fortes12.

Foram respeitados os princípios éticos do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde, que regulamenta as pesquisas envolvendo seres humanos13. O estudo obteve parecer de aprovaçao pelo Comitê de Ética e Pesquisa da instituiçao envolvida (protocolo n° 008/2013).


RESULTADOS

Formaram parte da amostra do estudo 13 profissionais, sendo quatro enfermeiros (30,80%) e nove técnicos de enfermagem (69,20%), com média de idade de 32 anos (±8,20). Em relaçao ao tempo de formado, para 61,52% (n=8) dos participantes, foi menor ou igual a 35 meses. O tempo médio de trabalho no CRAQ, para 53,83% (n=7) dos participantes, foi menor ou igual a 35 meses (Tabela 1).




A distribuiçao de turnos de trabalho entre os participantes foi de 38,45% (n=5) à tarde, 30,76% (n=4) à noite, 23,07% (n=3) pela manha e 7,70% (n=1) trabalhavam em horário comercial (8 às 17 horas). Nenhum dos entrevistados referiu ter recebido treinamento específico para atendimento a pacientes queimados por parte da instituiçao empregadora. Doze (92,30%) profissionais referiram sentir-se realizados com sua profissao, e sentimentos de estresse e cansaço físico foram relatados como motivo de insatisfaçao por um participante. Todos (n=13) apontaram o trabalho no CRAQ como único vínculo empregatício.

A análise total do IEE da equipe de enfermagem apresentou pontuaçao média de 96,30 (±22,59), o fator Relaçoes Interpessoais apresentou pontuaçao média de 41,53 (±15,61), os Papéis Estressores da Carreira de 28,46 (±8,43) pontos, e os Fatores Intrínsecos ao Trabalho uma média de 26,30 (±8,14) pontos.

Segundo as respostas para os itens que avaliaram estresse, entre enfermeiros e técnicos de enfermagem, observou-se uma pontuaçao média de 112,75 (±10,11) e de 89,00 (±23,06) pontos, respectivamente. Os profissionais que relataram tempo de trabalho maior ou igual a 36 meses apresentaram uma média total de 101,00 pontos (±21,97), para estresse. O fator Relaçoes Interpessoais apresentou uma pontuaçao média de 38,85 (±18,84) para os que relataram trabalhar a menos que 35 meses, e de 44,66 (±11,70), para os que trabalhavam há 36 meses ou mais (Tabela 2).




A pontuaçao média total do IRC-T, entre os profissionais entrevistados, foi de 73,53 (±14,54) pontos. Entre as duas categorias, que formam a escala de coping, a correspondente a manifestaçoes de enfrentamento apresentou pontuaçao média de 44,46 (±8,85) pontos, enquanto as respostas de evitaçao apresentaram média de 29,07 (±7,64) pontos.

Segundo a frequência de utilizaçao de estratégias de coping entre enfermeiros e técnicos de enfermagem, as respostas de enfrentamento apresentaram média de 48,50 (±2,51) e de 42,66 (±10,17) pontos, respectivamente. Os profissionais que trabalhavam havia menos que 35 meses apresentaram pontuaçao total média de 75,42 (±16,05) pontos, para utilizaçao de coping, os profissionais que desenvolviam atividades no CRAQ por um período maior obtiveram pontuaçao de 71,33 (±13,70) pontos (Tabela 3).




Obteve-se correlaçao forte e positiva entre ambas as escalas (r=0,70), isto é, quanto maior pontuaçao de estresse maior pontuaçao de coping entre os profissionais. Quando analisadas as correlaçoes segundo as subcategorias, foram encontradas correlaçoes estatisticamente significantes entre os domínios Respostas de Enfrentamento e Resposta de Evitaçao, do IRC-T e o domínio Papéis estressores da carreira, do IEE; e entre os domínios Respostas de Enfrentamento, do IRC-T, e, Fatores intrínsecos ao trabalho, do IEE (Tabela 4). Destaca-se que as correlaçoes estatisticamente significantes, segundo a classificaçao adotada, foram consideradas como correlaçoes fortes (r>0,50).




DISCUSSAO

A investigaçao do estresse entre os profissionais do CRAQ, a partir da aplicaçao do IEE, permitiu identificar que os profissionais da equipe de enfermagem, participantes deste estudo, apresentaram pontuaçoes que caracterizavam alto nível de estresse ocupacional. Resultado semelhante foi evidenciado por autores em um estudo que buscou avaliar o estresse entre enfermeiros de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) de diferentes hospitais de Sao Paulo, no qual identificou-se elevado nível de estresse ocupacional, tendo sido atribuído ao contínuo contato com pacientes críticos, exposiçao prolongada a situaçoes difíceis e excessiva carga de trabalho14.

Dos três fatores específicos do inventário, o referente a Relaçoes Interpessoais foi apontado com maior frequência como causador de estresse, seguido pelos fatores específicos Papéis Estressores da Carreira e Fatores Intrínsecos ao Trabalho. Ressalta-se que o fator Relaçoes Interpessoais aborda as relaçoes com outros profissionais, com pacientes e acompanhantes, com alunos, com o grupo de trabalho, com as pessoas em geral e também com a própria família. Os Papéis Estressores da Carreira referem-se à indefiniçao, à falta de reconhecimento e à autonomia da profissao, à impotência diante da impossibilidade de executar algumas tarefas e a aspectos sobre a organizaçao institucional e ao ambiente físico. Por sua vez, os Fatores Intrínsecos ao Trabalho relacionam-se com as funçoes desempenhadas, com a jornada de trabalho e com os recursos inadequados11.

O Fator Relaçoes Interpessoais vem sendo apontado como o principal causador de estresse entre enfermeiros14, sendo que a interaçao enfermeiro-paciente e com profissionais de diferentes turnos de trabalho, e dos enfermeiros com chefes e professores universitários em campo de estágio, devido à competitividade e à falta de confiança, apresentaram-se como importantes causas de estresse ocupacional4,7.

No cenário nacional, em pesquisa realizada com enfermeiros de um hospital universitário atuantes em unidade aberta, como clínica médica, mostrou-se que 44% dos participantes possuíam elevados níveis de estresse1. Resultado semelhante foi identificado em pesquisa realizada com enfermeiros atuantes em unidades fechadas, como UTI e unidade cardiológica, em que 41,66% dos enfermeiros apresentaram alto nível de estresse5. As Relaçoes Interpessoais se apresentaram como importantes aspectos estressores em ambos os estudos1,5.

Sugere-se que em unidades abertas1,4 o contato direto com familiares e acompanhantes pode ser um potencial estressor aos profissionais, uma vez que o gerenciamento da equipe e a realizaçao de procedimentos ocorrem em meio aos olhares, julgamentos e questionamentos, demandando orientaçoes e justificativas frequentes. Ainda, a inserçao do familiar ou acompanhante no cuidado ao paciente, no ambiente hospitalar, é percebida como um motivo de preocupaçao para a equipe, devido às interferências e solicitaçoes dos mesmos, as quais podem limitar suas açoes e tornar difícil o cumprimento das atribuiçoes de trabalho, dificultando o relacionamento enfermeiro-cliente-familiares.

Em estudo realizado em diferentes UTIs de Sao Paulo observou-se menor frequência de estresse em profissionais de enfermagem (57,1%)14, quando comparado a outros estudos em unidades especificas5, possivelmente devido à estrutura física e ampla disponibilidade de equipamentos para situaçoes de emergência, proporcionando agilidade e segurança na realizaçao de procedimentos. Além disso, a capacitaçao técnico-científica da equipe atuante naquelas unidades e a presença permanente de profissionais médicos, bem como contato mínimo com familiares, sao favoráveis para a avaliaçao de baixo estresse.

No presente estudo, os profissionais da equipe de enfermagem apresentaram elevados níveis de estresse. Sabe-se que o trabalho em CRAQ leva os profissionais à convivência constante com pacientes críticos, suas queixas de dor física e sofrimento emocional, devido às restriçoes iminentes advindas das queimaduras e futuras sequelas, que os faz desenvolver uma condiçao crônica de saúde10. A especificidade e complexidade da assistência em unidades de internaçao fechadas, como os CRAQ, e lacuna no treinamento específico da equipe para atuar neste setor podem contribuir com o estresse entre os profissionais.

Além disso, a pontuaçao média total do IEE, dos enfermeiros, foi maior em relaçao à dos técnicos de enfermagem. Maiores níveis de estresse ocupacional seriam identificados entre os enfermeiros em decorrência da responsabilidade do papel de líder e gerente da equipe de enfermagem, entre estas a organizaçao das dinâmicas de trabalho, evidenciando que atividades gerenciais sao importantes causas de perturbaçoes orgânicas ou psíquicas15.

Ao analisar o nível de estresse a partir do tempo de trabalho no CRAQ, percebe-se que o estresse aumenta conforme aumentam os anos de atividade laborar neste setor. Entretanto, independentemente do tempo, observa-se que as Relaçoes Interpessoais se apresentam como maior causa de estresse no ambiente laboral.

Do mesmo modo, maior tempo de atuaçao na unidade também pode ser entendido como favorável ao desempenho profissional, por gerar maior segurança na realizaçao das atividades diárias em funçao da estabilidade e adaptaçao às normas institucionais e rotinas de cada setor5. Todavia, contribuiria com a manifestaçao de cansaço e estresse, em decorrência do aumento de atividades que implicam em responsabilidades, tais como, assumir a capacitaçao de novos profissionais e a necessidade de redistribuiçao ou adequaçoes de atividades em decorrência de afastamentos e necessidades institucionais. Além disso, a realizaçao de atividades de forma rotineira também pode ser geradora de estresse, insatisfaçao e esgotamento físico, como foi identificado na presente pesquisa.

A aplicaçao do IRC-T junto a equipe de enfermagem do CRAQ sugere médias altas para o uso de estratégias de coping em situaçoes estressoras. Do total, a categoria Respostas de Enfrentamento apresentou maior pontuaçao, quando comparada à categoria Respostas de Evitaçao. Nota-se, portanto, que a equipe de enfermagem identifica as situaçoes problemáticas no ambiente de trabalho e tende a agir, utilizando esforços cognitivos e comportamentais, no intuito de compreender e administrar a origem do problema. Neste sentido, a maior utilizaçao de Respostas de Enfrentamento corresponderia a atitudes positivas e ativas frente as dificuldades no trabalho, o que contribuiria no gerenciamento do estresse ocupacional, com repercussoes benéficas para o desempenho profissional, preservaçao da saúde e qualidade da assistência1.

Em contrapartida, estudo realizado em unidade de hemodiálise na Austrália16, com o objetivo de verificar as estratégias de coping utilizadas pelos enfermeiros, identificou maior utilizaçao do coping centrado na emoçao. Isto é, utilizaçao de Respostas de Evitaçao, em que o indivíduo tenta reestruturar o acontecimento com o intuito de encontrar aspectos favoráveis para amenizar a gravidade do estressor, concentrando-se nos aspectos positivos como forma de amenizar a carga emotiva negativa da situaçao, como sentimento de dever cumprido após a realizaçao das rotinas de cuidado, busca de apoio espiritual, e conversar sobre assuntos nao referentes ao trabalho.

Estratégias de coping centradas na emoçao sao mais comuns de ocorrer quando em avaliaçao prévia se evidencia a impossibilidade de modificar as condiçoes de dano, ameaça ou desafios ambientais. As estratégias de coping centradas no problema sao mais frequentes quando prévia avaliaçao indica possibilidade de mudança, sendo estas associadas à reduçao do limiar de estresse17. Assim sendo, o coping centrado na emoçao nao seria efetivo em situaçoes de alto estresse, já o coping focado no problema exerceria efeitos benéficos e facilitaria a minimizaçao dos estressores e dos efeitos adversos da alta demanda de trabalho18.

Neste mesmo sentido, compartilhar e explorar os sentimentos sobre as situaçoes estressantes com os colegas de trabalho, e até com os acompanhantes dos pacientes, é um importante mecanismo para encontrar formas de lidar e superar os estressores19.

Ao analisar os resultados do inventário, segundo atividade profissional, observa-se que, embora as pontuaçoes nao apresentassem grandes diferenças, enfermeiros utilizam mais estratégias de coping, quando comparados aos técnicos de enfermagem. A responsabilidade do enfermeiro como líder da equipe pode justificar sua maior utilizaçao de coping, visto que cabe a ele gerenciar, além da unidade, os conflitos que envolvem os membros da equipe e entre a equipe e pacientes e/ou familiares.

Quanto ao tempo de trabalho no CRAQ e a utilizaçao de estratégias de coping destaca-se que os profissionais que trabalhavam havia menos de 35 meses apresentaram tendência a utilizar estratégias de coping. Possivelmente, o menor tempo de atuaçao no serviço e a necessidade de adaptaçao estimulem o profissional a buscar estratégias para administrar os eventos estressores, o que pode justificar maior frequência de Respostas de Enfrentamento entre os participantes com menor tempo de atuaçao.

O tempo de formaçao e experiência, tanto pessoal como profissional, apresentaria-se como fator capaz de oferecer subsídios para a adequada identificaçao, avaliaçao e enfrentamento dos estressores vivenciados no trabalho. A realizaçao de capacitaçoes favoreceria a adaptaçao as atividades a serem desenvolvidas, minimizando o desgaste decorrente de situaçoes desconhecidas. Ainda, a realizaçao de curso de pós-graduaçao e especializaçao ofereceria maior segurança para o enfrentamento e administraçao dos estressores no trabalho e, a oferta de capacitaçao específica, por parte da instituiçao, poderia auxiliar no desempenho das atividades e atribuiria maiores chances de enfrentamento adequado1.

Tais dados divergem dos resultados do presente estudo, no qual se infere que uma equipe jovem, em busca de experiência profissional e com pouco tempo de trabalho no setor, optaria pela utilizaçao de estratégias de coping com resultados positivos, ou seja, utilizaçao de Respostas de Enfrentamento, para minimizar os aspectos estressores que poderiam se apresentar em decorrência da pouca experiência no atendimento ao queimado.

Os coeficientes de correlaçao do presente estudo permitem inferir que estresse e coping apresentam uma estreita relaçao, embora em uma amostra pequena. Sugerindo que, na presença de estressores durante o desenvolvimento das atividades laborais no CRAQ, os profissionais de enfermagem utilizaram estratégias de coping em busca da superaçao do evento estressor.

Os resultados apresentados na presente pesquisa corroboram com distintos estudos incluídos em uma revisao de literatura, na qual os principais estressores referidos por enfermeiros foram as relaçoes interpessoais, principalmente, com pacientes e colegas de trabalho, e insatisfaçao que os levaria a manifestar desejo de mudança de profissao, e como estratégias de coping, açoes direcionadas ao problema20.

Neste sentido, os autores destacaram a importância do suporte social e apoio por parte das instituiçoes empregadoras como essenciais para auxiliar os trabalhadores a lidar com o estresse, salientando a importância da avaliaçao de coping e da presença de estressores no ambiente de trabalho20, as quais requerem de maiores investigaçoes, uma vez que a presença de alteraçoes no ambiente de trabalhado influencia diretamente a saúde psicofisiológica e interaçoes sociais dos trabalhadores.


CONCLUSAO

A equipe de enfermagem do CRAQ apresentou tendência para elevado nível de estresse ocupacional e as relaçoes interpessoais emergiriam como principais contribuintes para manifestaçoes de estresse. Os enfermeiros apresentaram maiores pontuaçoes de estresse do que técnicos de enfermagem e os níveis de estresse aumentaram com o tempo de trabalho no CRAQ.

Ainda, identificou-se aplicaçao de estratégias de coping para administrar as situaçoes estressoras, sendo o coping centrado no problema mais utilizado do que as respostas de evitaçao, revelando uma característica positiva da equipe, visto que o coping focado no problema apresenta maior potencial na reduçao do estresse em um menor período de tempo. Houve maior média de utilizaçao de estratégias de coping entre enfermeiros e entre profissionais que trabalhavam no CRAQ havia menos que 35 meses.

Apesar da amostra relativamente pequena, considera-se importante reforçar que obteve-se correlaçao forte e positiva entre as pontuaçoes resultantes dos questionários IRC-T e IEE. Evidenciando que, embora os profissionais de enfermagem estivessem afetados por diferentes estressores no desenvolvimento de suas atividades laborais, os mesmos utilizavam de estratégias de coping na busca por minimizar os efeitos negativos de seus estressores.

A partir dos achados pode-se alegar que uma atençao especial deve ser dada à saúde, principalmente psicoemocional, da equipe de enfermagem, por meio de espaços de diálogo e convivência. As instituiçoes empregadoras possuem um papel de extrema importância na disponibilizaçao de recursos para o apoio ao trabalho das equipes de enfermagem e manutençao da saúde físico-psico-emocional, visto que a adoçao de estratégias de coping nao substitui tais recursos.

Sugere-se investir em estudos que permitam expandir o conhecimento acerca da temática coping e estresse na equipe de enfermagem atuante em unidades especializadas, como o CRAQ, e em outras unidades de internaçao, de forma a ampliar a discussao e conhecimento sobre a temática, ainda pouco investigada no país. Justifica-se a carência na inclusao de referências bibliográficas atualizadas devido à lacuna na literatura científica a respeito do tema investigado.


AGRADECIMENTO

A equipe de enfermagem do Centro de Referência em Assistência a Queimados, da Associaçao de Caridade Santa Casa do Rio Grande, por cooperarem com estudo.


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Este artigo é resultado da monografia:

ANTONIOLLI, Liliana. Coping e estresse no trabalho da equipe de enfermagem de um centro de tratamento de queimados (Monografia - Graduaçao em enfermagem), Pelotas - RS. Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas, 2014.









Recebido em 10 de Março de 2018.
Aceito em 15 de Maio de 2018.

Local de realização do trabalho: Associação de Caridade Santa Casa do Rio Grande, Rio Grande, RS, Brasil

Conflito de interesses: Os autores declaram não haver


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