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Acesso aberto Revisado por pares
Editorial

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Wandir Schiozer

Nos últimos anos, nota-se uma tendência à valorizaçao da chamada Medicina Baseada em Evidência. Muito resumidamente, a Medicina Baseada em Evidência é uma forma de Medicina que procura orientar a prática clínica de acordo com provas científicas. Dito dessa forma, parece nao haver diferença em relaçao à prática tradicional. Médicos com longos anos de prática estranham o uso da evidência em Medicina como algo novo. Indiscutivelmente, a evidência como substrato da construçao do saber é uma prática secular. A diferença reside na forma como se valorizam as evidências. Sao mais valorizadas pesquisas com menor possibilidade de erros sistemáticos (vieses) durante a elaboraçao, planejamento e análise estatística. Seguindo essa lógica, as evidências encontradas sao categorizadas. De um modo geral, as evidências sao classificadas de I a VIII. Nível I sao as revisoes sistemáticas com ou sem metanálises. Nível II sao os grandes ensaios clínicos, denominados mega trials (com mais de 1.000 pacientes). O nível III é constituído pelos ensaios clínicos com menos de 1.000 pacientes e nível IV, pelos estudos de coorte (nao possuem o processo de randomizaçao). Nível V sao os estudos com caso-controle. Nível VI sao as séries de casos. Nível VII sao os relatos de caso. Nível VIII sao as opinioes de especialistas, pesquisas com animais e pesquisas in vitro.

A hierarquia dos níveis de evidências nao é estática e, sim, dinâmica conforme o tipo de questao. As revisoes sistemáticas possuem vantagens quando comparadas às revisoes tradicionais porque, quando utilizam métodos rigorosos, diminuem a ocorrência de vieses. Revisoes sistemáticas com metanálises geralmente otimizam os resultados, pois a análise quantitativa dos estudos incluídos na revisao fornece informaçoes adicionais. As revisoes sistemáticas sao consideradas o nível I de evidências para qualquer questao clínica, por incluírem, sistematicamente, informaçoes sobre determinado tópico através de estudos primários (ensaios clínicos, estudos de coorte, casos-controle ou estudos transversais). A revisao sistemática, além de integrar informaçoes de forma crítica para auxiliar nas decisoes, explica as diferenças e contradiçoes encontradas em estudos individuais. As metanálises sao cálculos estatísticos aplicados aos estudos primários incluídos em uma revisao sistemática. Elas aumentam o poder estatístico para detectar possíveis diferenças entre os grupos estudados e a precisao da estimativa dos dados, diminuindo o intervalo de confiança. Os ensaios clínicos randomizados sao considerados nível II de evidências, pois possuem um grupo controle, sao prospectivos e possuem os processos de randomizaçao (sorteio dos participantes para serem alocados em um dos grupos do estudo).

Particularmente em relaçao às queimaduras, existem algumas dificuldades para produzir evidências com nível I e II. A grande variabilidade dos aspectos clínicos e questoes éticas impedem que se proceda, por exemplo, a uma randomizaçao, o que pode prejudicar o paciente. Por esse motivo, nesse caso, evidências com nível III e IV ganham grande importância na orientaçao clínica.

O uso indiscriminado do termo Medicina Baseada em Evidência gerou algum desgaste e lhe dá uma característica de modismo. Seus críticos afirmam que evidências científicas sao frequentemente deficientes em muitas áreas do conhecimento médico. Dizem também que a falta de evidência de benefícios e a falta de benefícios nao sao a mesma coisa. Outra crítica frequente é a dificuldade de obter resultados de revisoes muito abrangentes, porque quanto mais dados sao agregados, mais difícil se torna comparar os resultados dos pacientes apresentados pelo estudo com o paciente cujo problema médico criou a necessidade da pesquisa dos dados. A despeito de todos esses problemas, a Medicina Baseada em Evidência tem tido cada vez mais sucesso em tornar a opiniao dos experts na forma menos válida de evidência. Cada vez mais, as afirmaçoes, sempre que possível, devem ser baseadas em referências da literatura relevante. Mais do que uma modificaçao, a tendência é uma sistematizaçao do conhecimento médico, que se torna cada vez maior e mais complexo.

Wandir Schiozer
Editor

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