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Relato de Caso

Retalho de grande dorsal para reconstrução de perda de substância por queimadura elétrica em membro superior

Latissimus dorsi flap for reconstruction of loss of substance caused by electric burn on upper limb

Hudson Alex Lázaro1; Ana Elisa Dupin2; Carlos Eduardo GuimarãesLeão3; Dangelo Odair Viel4; Cecília Borges de Souza2

RESUMO

As queimaduras elétricas podem causar lesoes graves e o músculo grande dorsal é uma opçao para reconstruçao dessas lesoes. Paciente vítima de queimadura elétrica com lesao grave em membro superior esquerdo foi submetido à reconstruçao com retalho pediculado do músculo grande dorsal. O paciente evoluiu bem, com resultado satisfatório. O retalho do músculo grande dorsal pediculado se mostrou seguro para cobrir exposiçao óssea em queimaduras elétricas em membro superior esquerdo.

Palavras-chave: Queimaduras. Queimaduras Elétricas. Desbridamento. Lesões.

ABSTRACT

Electrical burns can cause serious injuries and the latissimus dorsi reconstruction is an option for these lesions. Victim of electrical burn patient with severe lesions in the left upper limb underwent reconstruction with pedicled latissimus dorsi muscle. The patient progressed well, with satisfactory results. The flap of the large dorsal muscle pedicle proved insurance to cover exposed bone in electrical burns in the left upper limb.

Keywords: Burns. Burns, Electric. Debridement. Lesions.

INTRODUÇAO

As lesoes por queimaduras sao a quarta causa mais comum de trauma no mundo, com estimativa de 11 milhoes de pessoas acidentadas em 2004. No Brasil, dados do Ministério da Saúde revelam um total de 12.300 hospitalizaçoes nos anos de 2000 e 2001, com um custo aproximado de 5 bilhoes de reais1,2.

Os acidentes por eletricidade representam, em média, 2% do total das queimaduras, sendo mais frequentes em crianças. As lesoes decorrentes de acidentes por alta voltagem sao geralmente graves, com várias complicaçoes em potencial3.

Muitas sao as técnicas utilizadas para reconstruçao das lesoes provenientes das queimaduras elétricas. O retalho do músculo grande dorsal foi inicialmente descrito por Tansini, em 1895. Desde entao, este retalho tem sido utilizado em variados tipos de reconstruçao em diversas partes do corpo4,5.

O músculo grande dorsal faz parte da regiao posterior e inferior do tronco e cintura escapular. Ele tem a forma de um triângulo, onde a base é a coluna vertebral e o seu vértice, a regiao axilar. Origina-se a partir da sexta vértebra torácica, coluna lombar e sacral e crista ilíaca. Suas fibras convergem sobre a escápula, com inserçao no úmero. A artéria toracodorsal (ramo da subescapular) é seu pedículo principal, localizando-se na superfície do músculo a aproximadamente 10 cm de sua inserçao. Há também a garantia de sua viabilidade pela presença de outro plexo na regiao do músculo serrátil anterior, sendo o mesmo uma alternativa para retalhos em pacientes cuja artéria toracodorsal foi previamente seccionada6,7.

Historicamente, a primeira referência científica da utilizaçao do músculo grande dorsal na cirurgia reparadora deve-se a IginoTansini, professor da Universidade de Pavia que, em 1896, descreveu um novo método de fechamento das feridas ocasionadas pelas mastectomias ditas radicais que, na época, produziam grave deformidade torácica. Mathes & Nahai fizeram um estudo detalhado da anatomia vascular dos músculos, em que o modelo da configuraçao sanguínea do músculo determina a segurança para sua transposiçao8.

Neste relato de caso foi utilizado o retalho miocutâneo de grande dorsal para cobertura de lesao grave em membro superior esquerdo em paciente com queimadura elétrica.

Objetivo

Mostrar um caso de lesao, com exposiçao óssea, em membro superior esquerdo por queimadura elétrica, tratado com retalho pediculado do musculo grande dorsal.


RELATO DE CASO E DISCUSSAO

Relato de caso de paciente com queimadura elétrica grave em 2013. Paciente encaminhado do interior do estado de Minas Gerais com queimadura por fio de alta tensao após acidente de carro com lesao grave em membro superior esquerdo e exposiçao óssea a chegada ao hospital.

Paciente foi submetido à reposiçao volêmica, desbridamento de urgência e internaçao no CTI da Unidade de Queimados Professor Ivo Pitanguy (Rede FhEMIG- Hospital Joao XXIII).

Foram realizados sucessivos desbridamentos com melhora importante do aspecto da lesao e aumento da exposiçao óssea. Dez dias após o trauma, o paciente foi submetido a novo desbridamento e rotaçao do retalho miocutâneo pediculado do musculo grande dorsal para cobertura da exposiçao óssea em terço superior do braço esquerdo. No mesmo ato cirúrgico foi realizada enxertia de pele em demais áreas queimadas do membro superior.

O paciente evoluiu bem, sem necrose de retalho ou sofrimento do mesmo. Houve perda de 30% dos enxertos realizados neste ato cirúrgico. O curativo foi trocado pelo médico no primeiro dia de pós-operatório. A próxima troca ocorreu após três dias e as demais foram realizadas diariamente.

Paciente evoluiu bem, houve boa integraçao do retalho, com melhora da funçao do membro e cobertura de toda a exposiçao óssea.


CONCLUSAO

As queimaduras elétricas trazem problemas funcionais e estéticos ao paciente. O cirurgiao plástico e uma equipe multidisciplinar podem reabilitá-lo.

O retalho do musculo grande dorsal em paciente com queimadura elétrica se mostrou seguro e com resultado satisfatório.


REFERENCIAS

1. Caleman G, Morais JF, Puga ME, Riera R, Atallah AN. Use of albumin as a risk factor for hospital mortality among burn patients in Brazil: non-concurrent cohort study. Sao Paulo Med J. 2010;128(5):289-95.

2. World Health Organization. The global burden of disease: 2004 update. Geneve: World Health Organization; 2008 [Acesso 20 Set 2012]. Disponível em: http://www.who.int/healthinfo/global_burden_disease/GBD_report_2004update_ full.pdf

3. Piccolo MS, Jaimovich CA, Piccolo NS. Queimaduras elétricas, químicas e radiodermite. In: Carreirao S, Cardim V, Goldenberg D, eds. Cirurgia plástica - Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Sao Paulo: Atheneu; 2005. p.875-82.

4. Colégio Americano de Cirurgioes. ATLS. Sao Paulo: Instituto Brasileiro de Ediçoes Pedagógicas; 1997.

5. Maxwell GP, Stueber K, Hoopes JE. A free latissimus dorsi myocutaneous flap: case report. Plast Reconstr Surg. 1978;62(3):462-6.

6. Maxwell GP, McGibbon BM, Hooper JE.Vascular considerations in the use of a latissimus dorsi myocutaneous flap after a mastectomy with an axillary dissection. Plast Reconstr-Surg. 1979;64(6):771-80.

7. Dingman RO, Argenta LC.Reconstruction of the chest wall. Ann Thorac Surg. 1981;32(2):202-8.

8. D'Este L. La technique de l'amputation de lla mamelle pour carcinome mamaire. Rev Chir (Paris). 1912;45:164.










1. Cirurgiao Plástico - Membro Especialista da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Belo Horizonte, MG, Brasil
2. Médica residente de cirurgia plástica da rede FHEMIG, Belo Horizonte, MG, Brasil
3. Cirurgiao Plástico- Membro Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Belo Horizonte, MG, Brasil
4. Médico residente de cirurgia plástica da rede FHEMIG, Belo Horizonte, MG, Brasil

Correspondência:
Hudson Alex Lázaro
Rua do Cruzeiro, 29-2º andar-sala 5
Belo Horizonte, MG, Brasil - CEP: 31910-480
E-mail: drhudsonlazaro@gmail.com

Artigo recebido: 22/01/2014
Artigo aceito: 13/3/2014

Trabalho realizado na FHEMIG - Fundaçao Hospitalar do Estado de Minas, Belo Horizonte, MG, Brasil.

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