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Perfil das hospitalizações para o tratamento agudo de crianças e adolescentes queimados, 2005-2010

Hospitalization profile for acute treatment of burned children and adolescents, 2005-2010

Iara Cristina da Silva Pedro1; Mariana Lelé Rinaldi2; Raquel Pan3; Natália Gonçalves3; Lídia Aparecida Rossi4; Jayme Adriano Farina Junior5; Lucila Castanheira Nascimento6

RESUMO

OBJETIVO: O objetivo deste estudo foi descrever o perfil das hospitalizaçoes para tratamento agudo de criança e adolescente queimados, entre zero e 19 anos de idade, em um Centro de Tratamento de Queimaduras (CTQ) localizado no interior paulista, entre 2005 e 2010.
MÉTODO: Estudo descritivo e retrospectivo, que teve como fonte de informaçao dados secundários, a partir de um registro sistematizado de controle interno do CTQ. As variáveis estudadas foram: número e tempo de internaçao para tratamento agudo, idade, sexo, etiologia das queimaduras e área da superfície corporal queimada.
RESULTADOS: Identificaram-se 204 internaçoes, sendo 60% do sexo masculino. A maioria das queimaduras ocorreu entre zero e 3 anos de idade, sendo a escaldadura o principal agente causador; enquanto que, dos 4 aos 19 anos, foram os líquidos inflamáveis.
CONCLUSAO: A caracterizaçao das internaçoes forneceu subsídios, contribuindo para dar visibilidade a esse agravo e motivar planejamento de açoes, especialmente relacionadas à prevençao de queimaduras.

Palavras-chave: Queimaduras. Criança. Prevenção de Acidentes. Epidemiologia.

ABSTRACT

PURPOSE: The aim of this study was to outline the hospitalization profile for acute treatment of child and adolescent burns victims, between zero and 19 years of age, at a Burn Treatment Center (BTC) located in the interior of Sao Paulo State, Brazil, between 2005 and 2010.
METHOD: A retrospective descriptive study, which had as an information source secondary data from a record systematized internal control BTC. The study variables were: number and duration of hospital admissions for acute treatment, age, gender, burn etiology and total body surface area.
RESULTS: In total were 204 hospital admissions, 60% of whom were male. Most burns affected between zero and three years of age; the scald was the main causal agent in this age range; where as, from four to 19 years, were flammable liquids.
CONCLUSION: Characterizing the hospital admissions provided support, contributing to grant visibility to this problem and motivate action planning, especially related to burn prevention.

Keywords: Burns. Child. Accident Prevention. Epidemiology.

INTRODUÇAO

Os acidentes na infância, em especial as queimaduras, afetam anualmente muitas crianças em diversos países, configurando-se como um problema de saúde pública. Pesquisas de cunho epidemiológico acerca das queimaduras podem contribuir para a prevençao das mesmas, visto que as queimaduras podem ser acidentais ou intencionais, e sao resultado de diversos e dinâmicos fatores1 que devem ser estudados de diferentes formas.

Na infância, muitos acidentes ocorrem no ambiente doméstico devido às crianças permanecerem grande parte do tempo no domicílio. Dados de acidentes domésticos ocorridos na Europa revelaram que, na Itália, as crianças sao o terceiro grupo populacional com maior incidência em acidentes domésticos; na Austria, somam 45% das hospitalizaçoes e 43% dos serviços de emergência2. Segundo a Organizaçao Mundial da Saúde (OMS), em todo o mundo, mais de 1 milhao de crianças morrem devido aos acidentes e 19, em cada 20 mortes, ocorrem nos países em desenvolvimento3.

Globalmente, no ano de 2004, aproximadamente 96.000 pessoas com menos de 20 anos morreram em consequência de queimaduras3. No Brasil, no período de 2008 a agosto de 2014, houve aproximadamente 26 mil internaçoes por exposiçao à corrente elétrica, radiaçao, temperaturas extremas, fumaça, fogo, chamas e contato com fonte de calor e substâncias quentes em menores de 19 anos, de acordo com o Departamento de Informática do Sistema Unico de Saúde4. Infelizmente, os dados brasileiros acerca das queimaduras, nao sao precisos. O registro desse trauma está inserido em um grande grupo de causas externas e nao há um sistema nacional de notificaçao de queimaduras no país. A estimativa é que, no Brasil, ocorram, por ano, cerca de 1 milhao de queimaduras5.

A causa mais comum de queimaduras pediátricas, independentemente do país e situaçao socioeconômica, é o contato com líquidos quentes e, em segundo lugar, a chama direta6. Estudo revelou que, no Brasil, a chama direta, tendo o álcool como agente etiológico, é um dos principais causadores de queimaduras no ambiente doméstico, as quais ocorrem, principalmente, nas áreas externas da casa, e acometem mais as crianças em idade escolar, do sexo masculino, que se queimaram brincando no quintal7,8.Diversos fatores influenciam na ocorrência de acidentes domésticos com crianças, tais como a falta de atençao, riscos domésticos e características próprias do desenvolvimento infantil, como a curiosidade9; entretanto, muitos poderiam ser potencialmente previstos e evitados.

Caracterizar o perfil das hospitalizaçoes para o tratamento agudo de vítimas de queimaduras contribui nao apenas com a produçao de conhecimento sobre o tema, visto que falta acurácia sobre os dados oficiais brasileiros acerca dos acidentes por queimaduras, mas também com dados que possam subsidiar o planejamento de medidas de prevençao de queimaduras. Baseado nessas consideraçoes, este estudo teve como objetivo descrever o perfil das hospitalizaçoes para tratamento agudo de crianças e adolescentes vítimas de queimaduras, na faixa etária de zero a 19 anos completos, em um centro especializado de tratamento para queimaduras de um hospital universitário na cidade de Ribeirao Preto, Sao Paulo, Brasil, no período de 2005 a 2010.


MÉTODO

Estudo descritivo e retrospectivo, de natureza quantitativa, realizado no Centro de Tratamento de Queimaduras (CTQ) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirao Preto da Universidade de Sao Paulo (HCFMRP-USP), no período de 1º de janeiro de 2005 a 31 de dezembro de 2010. Ribeirao Preto, cidade do interior do estado de Sao Paulo, éreconhecida como referência em pesquisas de saúde e, após a avaliaçao do acesso e a qualidade dos serviços de saúde do país, alcançou o terceiro lugar entre os 10 municípios brasileiros melhores pontuados10. O referido CTQ é um centro de referência para o tratamento de queimaduras no país. Foi aberto em 1982, possui atuaçao de uma equipe multidisciplinar11, e atualmente, tem dez leitos para internaçao de adultos e crianças, sendo que dois desses destinam-se ao atendimento de terapia intensiva; uma sala de centro cirúrgico e duas salas para atendimento ambulatorial.

A escolha da faixa etária de zero a 19 anos baseou-se no conceito de criança e adolescente da OMS, para a qual criança é toda pessoa com idade inferior a 10 anos, e adolescente é aquele entre 10 e 19 anos12. As variáveis estudadas foram: número e tempo das hospitalizaçoes para tratamento agudo, idade, sexo, etiologia da queimadura e área de superfície corporal queimada (SCQ). Como fonte de informaçao, utilizaram-se dados secundários, a partir de um registro sistematizado de controle interno do CTQ, cujo preenchimento estava sob a responsabilidade de um profissional da área administrativa do setor. Ocasionalmente, como alguns dados estavam ausentes, recorremos aos prontuários para coletar tais informaçoes. Os dados foram coletados nos meses de setembro a novembro de 2011, os quais foram organizados em planilha do Microsoft Office Excel 2007, validados por dupla digitaçao e transportados para análise no programa estatístico EpiInfo versao 3.5.3. Foram realizadas análises descritivas de frequência e proporçao.

O estudo foi aprovado por um Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (Protocolo CEP/EERP-USP 1214/2010) e recebeu permissao da chefia do CTQ e do hospital para seu desenvolvimento. Foi preservado o anonimato dos participantes e garantida responsabilidade e cuidado ético dos pesquisadores no manuseio e guarda das informaçoes coletadas.


RESULTADOS E DISCUSSAO

Hospitalizaçoes


Dos 1568 pacientes internados no CTQ do HCFMRP-USP, de 2005 a 2010, 419 (26,7%) eram crianças e adolescentes. Desses, 204 (13%) hospitalizaçoes tiveram como finalidade o tratamento agudo e 215 (13,7%) o tratamento das sequelas de queimaduras.

A média total das hospitalizaçoes de crianças e adolescentes para tratamento agudo foi de 2,8 por mês e 34,0 por ano. Os meses com maior número de hospitalizaçoes para tratamento agudo foram junho, setembro e dezembro; o ano com maior número foi o de 2006 e, o menor, foi o de 2008, conforme mostra a Tabela 1.




Houve um aumento das hospitalizaçoes por queimaduras nos meses de junho, setembro e dezembro. Apesar de nao ter sido objetivo desse estudo investigar o contexto de ocorrência das queimaduras, outras pesquisas sugerem uma relaçao entre atividades sazonais e a situaçao de ocorrência das queimaduras. No mês de junho, por exemplo, há a comemoraçao das festas dos Santos Populares, como Sao Joao, Sao Pedro, Sao Paulo e Santo Antônio, nas quais é comum o manuseio de fogueiras, fogos de artifício e baloes, elevando a incidência de pessoas que sofrem queimaduras13. Em setembro, no Brasil, principalmente na cidade de Ribeirao Preto e regiao, grande produtora de cana de açúcar e etanol, verifica-se a ocorrência de queimadas nas plantaçoes de cana de açúcar e queimadas urbanas, como por exemplo, a queimado lixo. Com a umidade relativa do ar mais baixa nesta época, as queimadas se propagam mais facilmente, aumentando o risco para acidentes.

Umas das explicaçoes para o aumento do número de hospitalizaçoes no mês de dezembro pode ser o início do período de férias, no qual as crianças e adolescentes permanecem mais tempo em seus domicílios e, em alguns casos, sem a companhia de um adulto. As comemoraçoes do Natal e Ano Novo, com uso de fogos de artifícios e churrasqueiras, aumentam a exposiçao à fumaça, fogos e chamas, contribuindo para o maior número de acidentes neste período14.

Observou-se o aumento do número de pacientes vítimas de queimaduras no ano de 2006 (n=40), o que pode estar relacionado às comemoraçoes advindas da Copa do Mundo que ocorreu neste ano, com a participaçao brasileira unicamente no mês de junho. É típico da populaçao brasileira as comemoraçoes com fogos de artifícios e churrascos, sendo utilizado o álcool líquido para acender a churrasqueira, e estes sao potenciais agentes de queimaduras15. No ano de 2008, nota-se uma queda no número das hospitalizaçoes (n=27). Entretanto, nesse mesmo ano, houve um aumento no número de procedimentos e cirurgias quando comparado ao ano anterior, segundo o relatório de atividades anual do HCFMRPUSP16. É possível que o número de hospitalizaçoes para tratamento agudo de crianças tenha diminuído devido ao aumento do número de hospitalizaçoes para tratamento das sequelas das queimaduras.

No CTQ deste estudo, nao há uma divisao pré-definida do número de leitos para internaçao destinados aos dois tipos de tratamento e há uma demanda reprimida de pacientes que aguardam vagas para realizaçao do tratamento das sequelas. Assim, neste período, pode ser que os leitos tenham sido mais ocupados por pacientes que necessitavam do tratamento reparador e outros centros de tratamento de queimaduras tenham absorvido parte da demanda dos pacientes agudos. Sobre esse aspecto, há necessidade de avaliaçao que englobe o número de internaçoes hospitalares para tratamento agudo da CTQ de Ribeirao Preto, bem como de outras CTQs do estado de Sao Paulo.

Tempo de internaçao e superfície corporal queimada (SCQ)

O tempo das hospitalizaçoes para tratamento agudo das crianças e adolescentes variou de um a 87 dias, com média de 17 dias (DP=14.9). A porcentagem da SCQ variou de 0,5 a 74,5%, com média de 12% (DP=12.5). A maioria dos pacientes sofreu queimaduras em menos de 10% da SCQ. A escaldadura foi responsável pelas queimaduras que acometeram até 10% da SCQ; entretanto, as queimaduras mais extensas, que acometeram de 11 a 75% da SCQ, foram causadas pelos líquidos inflamáveis, conforme mostra a Tabela 2.




No que diz respeito à SCQ, constatou-se que 122 (60%) dos pacientes tiveram menos de 10% da SCQ. Esse valor encontrado aproxima-se ao da literatura internacional17. Entretanto, estes dados se contradizem com o que é preconizado pela própria American Burn Association, visto que um dos critérios de avaliaçao para a internaçao de pacientes queimados é ter uma queimadura de espessura parcial com mais que 10% da SCQ18. É provável que essas hospitalizaçoes tenham sido motivadas por outros critérios, tais como as queimaduras localizadas em áreas nobres, como rosto, maos, períneo, genitais, pés e articulaçoes18. A falta de dados referente à localizaçao da queimadura é uma limitaçao deste estudo. Pesquisas futuras devem se atentar para a coleta desta variável, a fim de permitir uma análise mais aprofundada dos dados.

As queimaduras mais extensas que acometeram de 11% a 75% da SCQ foram causadas pelos líquidos inflamáveis, com destaque para o álcool líquido. Estudo epidemiológico realizado no maior centro de queimados da América Latina, localizado em Belo Horizonte, MG, trouxe resultados semelhantes, pois identificou que o álcool foi o principal agente etiológico dos pacientes internados a partir dos cinco anos de idade, o causador das queimaduras mais extensas e o maior responsável pelos óbitos. Os autores ainda concluem que o padrao das queimaduras deste estudo demonstra que se trata de um problema muito mais sociocultural, o qual poderia ser evitado por meio de campanhas preventivas, maior fiscalizaçao pelo governo com relaçao à comercializaçao do álcool líquido e a inclusao de uma disciplina na rede escolar que abordasse a prevençao de acidentes, a fim de reduzir a falta da cultura do perigo que permeia a populaçao brasileira19.

A média de dias de internaçao foi de 17 dias, achado similar encontrado, tanto em pesquisa nacional20 quanto internacional21. Tal valor pode ser considerado moderado se comparado a estudo que refere que a média de permanência hospitalar é classificada como alta quando ultrapassa 30 dias22. Geralmente, o número de dias de internaçao reflete maiores extensoes e profundidade das lesoes dos pacientes queimados22.

Idade, sexo e agente das queimaduras

Sessenta por cento das queimaduras ocorreram no sexo masculino e acometeram, principalmente, meninos na faixa etária entre zero e 3 anos de idade. Os agentes térmicos provocaram 192 (94%) queimaduras, os elétricos 8 (4%), os químicos 2 (1%) e o atrito 2 (1%). Dentre os agentes térmicos, a escaldadura foi o principal agente causador 78 (38,2%), provocadas por água 45 (22,1%), óleo 18 (8,8%) e por outros agentes, tais como leite, chá, feijao, café e melaço de cana 15 (7,3%). Com relaçao aos líquidos inflamáveis, 54 (26,4%) queimaduras foram causadas pelo álcool líquido, 9 (4,4%) por gasolina e 4 (2%) por outros (etanol, acetona e óleo diesel).

Considerando a totalidade dos casos, verificou-se que o maior causador das queimaduras na faixa etária de zero a 3 anos foi a escaldadura e, dos 4 aos 19 anos, foram os líquidos inflamáveis. Entretanto, ao analisar os dados de acordo com o sexo, verificamos que essa tendência se mantém apenas no sexo masculino. No sexo feminino, o número de casos de queimaduras por escaldadura foi mais frequente em todas as faixas etárias. As meninas entre zero a 3 anos e de 11 a 16 anos foram as mais acometidas por escaldadura. Nas outras faixas etárias, os líquidos inflamáveis foram os principais responsáveis, conforme mostra a Tabela 3.




A epidemiologia das lesoes por queimaduras varia de um país para outro, ao longo de um determinado tempo, e estao relacionadas às práticas culturais, crises sociais e circunstâncias individuais. Tanto nos países desenvolvidos quanto nos em desenvolvimento, observa-se um grande número de acidentes por queimaduras em crianças com menos de 4 anos e do sexo masculino21,23, achado também encontrado neste estudo. Os acidentes por queimaduras em meninos podem ser explicados culturalmente. No Brasil, os meninos sao educados de forma a serem mais independentes que as meninas; participam de brincadeiras e atividades de maior risco e possuem maior impulso para se arriscar em atividades relacionadas à curiosidade, quando distantes da supervisao de adultos24.

Além do aspecto cultural, a ocorrência das queimaduras também pode ser influenciada por características próprias do desenvolvimento infantil, tais como a imaturidade física e mental, a inexperiência e incapacidade para prever e evitar situaçoes de perigo, grande curiosidade, motivaçao para realizar tarefas, tendências a imitar comportamentos e falta de coordenaçao motora25.

É frequente crianças pequenas puxarem para si recipientes com líquido quente, como as panelas em cima do fogao26 ou permanecerem junto aos pais enquanto eles estao cozinhando27. Essa situaçao pode explicar a alta incidência da escaldadura, em ambos os sexos, na faixa etária dos zero aos três anos. Entretanto, em relaçao ao sexo feminino, identificou-se que as escaldaduras foram constantes em todas as faixas etárias. No Brasil, desde cedo, grande parte das meninas aprendem a cozinhar, carregar líquidos quentes e supervisionar crianças mais novas, o que pode ter influenciado no desfecho da queimadura. Essas atividades também requerem habilidades motoras e crianças entre 7 e 14 anos de idade podem nao ter a coordenaçao motora que os adolescentes mais velhos ou os adultos têm, levando a derramar recipientes com líquidos mais frequentemente28.

Em crianças maiores de 3 anos, pré-adolescentes e adolescentes, em ambos os sexos, foram mais frequentes as queimaduras por líquidos inflamáveis, com maior destaque para o álcool líquido. O uso do álcool líquido se configura como algo que já faz parte da cultura brasileira, pois muitas pessoas o utilizam, rotineiramente, para a limpeza dos ambientes domésticos e para acender churrasqueiras19. Em um hospital do Rio de Janeiro, entre 2000 e 2002, houve 76 casos de internaçao e 18 óbitos de vítimas de queimaduras por álcool liquido; nao houve diferença em relaçao ao sexo e ao número de vítimas29.

Queimaduras por álcool ou querosene foram identificadas em países tropicais da América Latina, enquanto que água quente e braseiros foram agentes mais comuns nos países da América do Sul23. Também se verifica que, entre os adolescentes, há maior uso indevido de substâncias altamente inflamáveis21,27, facilidade para acender churrasqueiras e similares e para contato com fósforos e isqueiros14. Apesar de os adolescentes possuírem maior conhecimento do ambiente e dos riscos dos acidentes que as crianças, é comum nessa faixa etária a procura por emoçoes e desafios, para que se sintam aceitos, admirados pelos outros. Optar pela exposiçao aos riscos é uma característica comum que faz parte do desenvolvimento dos adolescentes e pode contribuir para a ocorrência de queimaduras nesta parcela da populaçao.

Caracterizar as hospitalizaçoes de crianças e adolescentes vítimas de queimaduras no CTQ do HCFMRP-USP forneceu subsídios para o reconhecimento da clientela atendida em Ribeirao Preto e algumas de suas especificidades, tais como a influência de aspectos culturais e sazonais, dentre outros, para a ocorrência deste trauma. Além disso, este estudo permitiu comparar seus resultados com o de outras pesquisas, e serve como subsídio para o planejamento e desenvolvimento de políticas e programas de prevençao. Apesar da ocorrência de muitos progressos na área da saúde, a prevençao é a melhor alternativa para as queimaduras30. As queimaduras possuem causas previsíveis e facilmente identificáveis; entretanto, conhecer a sua epidemiologia e deixar tais resultados apenas como mero interesse estatístico diminui o seu valor, pois a grande importância de tais números está no subsídio de elaboraçao de programas preventivos30.

A prevençao das queimaduras na infância e adolescência depende de diversos fatores, tais como as medidas de saúde pública aplicadas setorialmente, políticas governamentais e também da conscientizaçao da criança, família e comunidade. Com a interligaçao de todas essas esferas será possível modificar a realidade e diminuir os índices deste tipo de acidente. Faz-se necessário também o desenvolvimento de pesquisas qualitativas para ampliar o conhecimento dos fatores relacionados ao contexto da ocorrência das queimaduras e das açoes e comportamentos dos sujeitos envolvidos neste processo, a fim de melhor subsidiar campanhas de prevençao.


CONCLUSOES

A maior parte dos resultados desta pesquisa está de acordo com outros estudos. No período selecionado, a maioria das queimaduras ocorreu no ano de 2006, nos meses de junho, setembro e dezembro. Acometeram, principalmente, crianças do sexo masculino, com menos de 10% da SCQ. A média das hospitalizaçoes foi de aproximadamente 17 dias. Na faixa etária dos zero aos 3 anos de idade, o principal agente causador foi a escaldadura por água; e, dos quatro aos 19 anos, foram os líquidos inflamáveis, com destaque para o álcool líquido.

A presente pesquisa limitou-se à coleta de seis variáveis. A inclusao de outras variáveis, tais como a localizaçao da área acometida pela queimadura e a necessidade de tratamento cirúrgico, permitiriaoutras análises e, consequentemente, ampliaçao do objeto de estudo. Esta investigaçao, ao alcançar o seu objetivo, a partir do estudo desse perfil, contribui para melhor planejamento de estratégias e medidas que podem ser realizadas para dar visibilidade a esse agravo e motivar reflexoes e planejamento de açoes futuras de promoçao à saúde e de prevençao de queimaduras, nao apenas na esfera nacional brasileira, como também em âmbito internacional, em países com características semelhantes às do Brasil.


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1. Enfermeira. Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirao Preto da Universidade de Sao Paulo. Centro de Tratamento de Queimaduras. Doutora em Enfermagem em Saúde Pública. Escola de Enfermagem de Ribeirao Preto da Universidade de Sao Paulo. Departamento Materno-infantil e Saúde Pública, Ribeirao Preto, SP, Brasil
2. Enfermeira Residente. Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas. Residência Multiprofissional em Saúde da Criança e do Adolescente, Campinas, SP, Brasil
3. Enfermeira. Doutoranda. Escola de Enfermagem da Universidade de Sao Paulo e Escola de Enfermagem de Ribeirao Preto da Universidade de Sao Paulo. Programa Interunidades,Ribeirao Preto, SP, Brasil
4. Enfermeira. Professor Titular. Escola de Enfermagem de Ribeirao Preto da Universidade de Sao Paulo. Departamento Enfermagem Geral e Especializada, Ribeirao Preto, SP, Brasil
5. Médico.Professor Doutor. Faculdade de Medicina de Ribeirao Preto da Universidade de Sao Paulo, Departamento de Cirurgia e Anatomia. Chefe da Divisao de Cirurgia Plástica. Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirao Preto da Universidade de Sao Paulo, Ribeirao Preto, SP, Brasil
6. Enfermeira. Professor Associado. Escola de Enfermagem de Ribeirao Preto da Universidade de Sao Paulo. Departamento Materno-infantil e Saúde Pública,Ribeirao Preto, SP, Brasil

Correspondência:
Iara Cristina da Silva Pedro
Rua Carlos de Campos, 845. Bairro Monte Alegre
Ribeirao Preto, SP, Brasil - CEP: 14051-080
E-mail:iara_eerp@yahoo.com.br

Artigo recebido: 15/10/2014
Artigo aceito: 8/12/2014
Conflito de interesse: Nao houve conflitos de interesse no desenvolvimento desta pesquisa.

Trabalho realizado no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirao Preto da Universidade de Sao Paulo (HCFMRP-USP).


Apresentaçao em congressos: Resultados parciais deste estudo foram apresentados no 35º Congresso Brasileiro de Pediatria, de 9 a 11 de outubro de 2011, em Salvador/BA; no VIII Congresso Brasileiro de Queimaduras, de 10 a 13 de outubro de 2012, em Florianópolis/SC; no 20º Simpósio Internacional de Iniciaçao Científica da USP, de 26 de outubro de 2012, em Ribeirao Preto/SP; no 15th European Burns Association Congress, de 28 a 31 de agosto de 2013, em Viena/Aústria; e no 17th International Nursing Research Conference, de 12 a 15 de novembro de 2013, em Lleida/ Espanha.

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